segunda-feira, julho 30, 2007

saraband

Ingmar Bergman (1918-2007)

sábado, julho 28, 2007

a importância de se chamar hilton

Entre a dúvida que subsiste sobre se é cantora, actriz, ou apenas famosa, também só há muito pouco tempo me apercebi que Paris Hilton não era simplesmente o nome de uma cadeia de hotéis francesa.

quinta-feira, julho 26, 2007

quadro interactivo

O quadro interactivo agora anunciado pelo governo é muito mais patético do que a caixa electrónica que os interessados têm de activar através duns procedimentos contemporâneos do papel selado. É mais patético porque, ao escutar-se Sócrates a explicar as maravilhas do dito quadro, se percebe como ele acha que tudo se resume aos adereços.
Ao contrário do que afirmou o nosso primeiro-ministro, a relação professor-aluno não muda por causa de um brinquedo que desenha de forma perfeita os ângulos dos losangos. O quadro interactivo não faz falta alguma, ou melhor, faz tanta falta quanto antes dele fizeram os ainda recentes acetatos ou os já desaparecidos flanelógrafos: se o professor for bom e se a turma estiver motivada, esses objectos ajudam a tornar mais interessante aquilo que já o é. Caso contrário, ou seja, se o professor for mau e se os alunos não estiverem interessados, então todas essas apregoadas maravilhas se transforma numa tralha grotesca.


(Do artigo de Helena Matos, no Público de 25 de Julho)

quarta-feira, julho 25, 2007

marx today

Tinham tanta abundância de espiritualidade como escassez de materialismo dialético.

terça-feira, julho 24, 2007

rio de todos os meses

segunda-feira, julho 23, 2007

sim, e o pai natal foi jantar ontem lá a casa

"A mais notória das características da comunidade dirigida por Aga Khan prende-se com o facto de ter um conjunto enorme de acções de natureza humanitária e conservar, em relação a elas, uma atitude completamente discreta, sem qualquer iniciativa de propaganda ou divulgação*, quer de projectos em curso, quer do trabalho já feito. A sua actividade consiste em "fazer", não em falar disso."
(Pedro Laranjeira, autor do artigo sobre os 50 anos do líder espiritual da comunidade ismaelita, Aga Khan, no suplemento Perspectiva, que acompanhava o Público de sábado).

Apenas quem não conhece minimamente o modus operandi da instituição, ou um jornalista desatento (que absorve, sem o mais leve sentido crítico, tudo o que lhe põem no prato), não desata à gargalhada com uma frase destas, quando aplicada à Fundação Aga Khan Portugal.

(*) sublinhados meus

domingo, julho 22, 2007

lápis

Nem os planos, nem as formas públicas de mobilidade. Ao olhar para os mapas e fotografias em seu redor, dava-se conta de que o automóvel era, afinal, o verdadeiro lápis que desenhava o crescimento das cidades.

quinta-feira, julho 19, 2007

ordinary citizens

Imagem adaptada da foto de Nelson Garrido, nas páginas centrais do Público de ontem, a propósito da exposição Ordinary Citizens, patente no Teatro Circo, em Madrid, sobre as vítimas da ditadura comunista de Estaline entre 1920 e 1953. A exposição reúne fotografias e documentos recolhidos nas colecções do Museu da Memória em Moscovo, no Reinhard Schultz de Berlim e na David King College de Londres.

quarta-feira, julho 18, 2007

ibiérica

Está aqui uma coisa mesmo à espanhola… a ‘Taberna Ibérica’… diz ali que tem tapas… e canhas… Mas não é bem espanhola, porque se fosse era uma Tavierna… A ‘Tavierna Ibiérica’”.

(Extraído do longo monólogo de um taxista, durante uma paragem do trânsito)

terça-feira, julho 17, 2007

porta-submarinos ao fundo

Rombo no casco. Votação nas intercalares de Lisboa a ficar-se em 3,7% e nenhum vereador eleito. E não adianta a Paulo Portas fazer birra com as "questões muito sérias sobre o exercício da acção política em Portugal".
Apenas resta saber se este resultado corresponde já ao impacto eleitoral dos casos da Portucale, da compra dos submarinos, da militante do CDS-PP da Lousã, e das irregularidades nas contas do partido, recentemente detectadas pela PJ. Ou se é apenas o truque do regresso, depois da retirada, que já não funcionou.

segunda-feira, julho 16, 2007

palavras, actos e omissões

Entrou hoje em vigor a Lei da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), na sequência dos resultados do Referendo realizado em Fevereiro passado. Desde então, algumas pessoas e organizações defensoras do "Não" foram revelando insistentemente a sua incapacidade para aceitar o resultado obtido e, sobretudo, a legitimidade para dele extrair consequências legais e regulamentares. Há dias, por exemplo, recebi o seguinte email (cujos bolds e palavras destacadas a vermelho me dispenso de assinalar):

"É o país que temos... Espante-se, indigne-se e passe a informação: Em Portugal a interrupção voluntária da gravidez dá direito a 30 dias de licença com 100% do ordenado!
Mas uma mulher que esteja grávida e que se veja forçada a ficar de baixa antes do parto, sem este ser de risco, recebe um subsídio de 65% do seu ordenado; uma mãe que tenha que assistir na doença um seu filho menor recebe 65% do seu ordenado... Extraordinário, não é?
"

O que o(s) autor(es) não identificados desta mensagem omite(m), conforme pude apurar na sequência de um pedido de esclarecimentos junto do Instituto de Segurança Social, é que – para efeitos de despenalização – a IVG foi equiparada às situações de aborto espontâneo e gravidez de risco, não tendo portanto nenhuma espécie de tratamento excepcional e aplicando-se-lhe assim a mesma regulamentação em termos de concessão de "baixas" e apoio social.
Pode discordar-se da discrepância dos apoios à gravidez de risco e ao aborto espontâneo (a que se junta nestes termos a IVG), quando comparados com os apoios à assistência de descendentes menores ou, sobretudo, em caso de doença no decurso da gravidez. O que não é sério é tentar convencer os outros de que o tratamento dado nestes termos à IGV é excepcional e se demarca de todas as outras situações, como a mensagem "É o país que temos" sugere.
A rapaziada tem direito a manter as suas convicções, mesmo após o resultado de um referendo que não lhes foi favorável. Mas seria bom que resistissem também à tentação de omitir intencionalmente factos, ou de escolher selectivamente apenas a verdade que lhes interessa. Lembrem-se, aliás, que é pecado. Vale a pena pensar nisso...

sexta-feira, julho 13, 2007

jornalismo sério (II)

Afinal não fui só eu a reparar na fotografia da página 16 do Público de hoje, a propósito da manifestação de trabalhadores da função pública. Muito clara nas suas intenções subliminares, encobertas por uma aparência de jornalismo isento, está de facto ao nível de algumas das opções editoriais de José Manuel Fernandes.
E seria tão fácil fazer o mesmo com uma qualquer agremiação de empresários. Nem precisava ser escolhida para esse efeito meia dúzia de patrões têxteis. Podia obter-se uma fotografia equivalente talvez até com alguns ilustres do Compromisso Portugal.

quinta-feira, julho 12, 2007

the world is everything

(Photograph: © Donald Milne)
Após 4 anos de recolhimento, David Sylvian volta aos palcos, para a digressão The World is Everything, já depois da experiência Nine Horses. Talvez seja de esperar concertos entre a densidade obscura e tecnológica de Blemish (Fire in the Forest Tour, 2003) e a leveza luminosa da digressão Everything and Nothing (2001). Pela segunda vez, passa por Portugal, a 21 de Outubro em Lisboa (Centro Cultural de Belém), e a 23 em Braga (Teatro Circo).

terça-feira, julho 10, 2007

a vida dos outros (III)

"Sejamos claros: o entendimento segundo o qual um funcionário público está proibido de criticar o Governo por o primeiro se encontrar sob a dependência hierárquica do segundo é um entendimento que atropela os mais elementares direitos democráticos, que visa amordaçar a liberdade de expressão e coarctar a participação política dos cidadãos, instaurar um clima de medo e de obediência aos chefes e tornar permissíveis todos os abusos dos poderes. Esse entendimento é um entendimento antidemocrático e antiliberal, próprio de uma ditadura. Que se exija uma lealdade aos chefes que proíbe a crítica política é algo que não merece outra qualificação senão a de fascista.
(...) Poderia haver um inaceitável exagero nesta indignação se, perante estes abusos pontuais (e é verdade que ainda são pontuais), os membros do Governo envolvidos tivessem reagido com determinação para repor o clima de liberdade, justiça e tolerância e para reprimir os aprendizes de pides que lhes lambam as botas. Mas não: quer o primeiro-ministro quer os ministros da Saúde e da Educação nada fizeram nesse sentido, confortando pelo contrário, pela sua acção ou inacção, os mais baixos instintos dos seus acólitos ou seguiram-lhe mesmo os passos."
(José Vítor Malheiros, no Público de hoje)

segunda-feira, julho 09, 2007

linha recta

No dia em que desistires e te acomodares, tem ao menos a hombridade de silenciar a tua crítica e azedume.

domingo, julho 08, 2007

economia impura

Lançamento do livro com a presença do autor, José Reis. Apresentação por Francisco Louçã, na Livraria Almedina (Lisboa), Atrium Saldanha, Loja 71. Quarta-feira, dia 11 de Julho, às 18.30h.

sábado, julho 07, 2007

as férias (I)

O cabelo pintado não escondia a tez envelhecida do couro cabeludo, nem dissimulava as rugas do rosto, esculpidas pelo tempo e suavizadas com os cremes, bases e demais tratamentos químicos que lhe davam aquele aspecto de mescla indistinta, composta de tecidos celulares e substâncias sintéticas.
Não fazia ideia do destino de férias que seguia Dona Genoveva de Moraes, agora especada no intervalo que fica entre duas carruagens, com um cigarro delgado e comprido a fumegar por entre dois dedos da mão direita, meticulosamente cuidados por uma manicure profissional. E era imprescrutável o olhar, guardado dentro dos imensíssimos óculos, perdido algures na janela que o sol encandeava por entre as árvores fugidias.
Não fazia ideia a mais vaga ideia do seu destino, repito, mas a sua figura sugeria uma estância balnear do Inatel, onde se cumprem escrupulosamente os rituais do pequeno almoço, da espreguiçadeira de verga no sol da manhã, da sesta depois do almoço, que termina inexoravelmente com uma peça de fruta descascada, ou do fim de tarde no sofá da sala de estar, antes de se sentar à frente do peixe cozido com legumes, no refeitório aromatizado pelo vapor das dietas, que antecede o deitar às sete e meia da tarde, nove da noite no máximo, caso haja convívio organizado pelos animadores sociais da empresa.
Do alheamento do mundo, e da rotina morta e viscosa dos dias regulares, fazia parte aquela espécie de lamento fugaz e costumeiro, ora sobre mais uma dezena de mortos no Iraque, ora sobre a jovem violada e depois esfaqueada, sete vezes, numa vila do litoral norte português. Ou então a subida do preço da gasolina e o incêndio de um apartamento na Amadora, motivado por fuga de gás, que apenas deixou dois feridos ligeiros e um gato morto de estimação.
Para todos estes sinais de que o mundo girava, apesar dos dias regulares de Dona Genoveva, ficava sempre esse sobressalto ténue e breve, também ele regular, próprio de quem suspira para poder voltar ao ritual dos dias. Dos dias regulares que aproximam serena e saudavelmente a morte, e que, até ao final de Setembro, decorrem na estância balnear do Inatel, na Europa.

sexta-feira, julho 06, 2007

the lunatic is on the grass

When I woke up todayand you weren't there to playthen I wanted to be with youwhen you showed me your eyeswhispered love at the skiesthen I wanted to stay with youinside me I feel alone and unrealand the way you kiss will always bea very special thing to me...When I lay still at night seeingstars high and lightthen I wanted to be with youwhen the rooftops shone darkall alone (I) saw a sparkspark of love just to stay with youinside me I feel alone and unrealand the way you kiss will always bea very special thing to me...If I mention your nameturn around on a chainthen the sky opens out for youwhen we grew very tallwhen I saw you so smallthen I wanted to stay with youinside me I feel alone and unrealand the way you kiss will always bea very special thing to me...
(Para a Clara Pinto, que há um ano atrás assim me avisava, antes do jornal da manhã, da morte de Syd Barrett)

quarta-feira, julho 04, 2007

pancadinhas de mulière

Tinha uma obsessão tão doentia pela igualdade de género, que não resistiu à tentação de escrever "os(as) actores(actrizes) locais", no capítulo sobre as instituições existentes no concelho.

domingo, julho 01, 2007

incontinentia

Primeiro foi o processo movido a Fernando Charrua, na DREN. Agora, a exoneração de Maria Celeste Cardoso, directora do Centro de Saúde de Vieira do Minho, acusada pelo Ministro da Saúde, Correia de Campos, de quebra de "lealdade". Como é óbvio, estas histórias muito devem à sombria vigilância de zelosos "bufos" locais, que pedagogicamente se encarregam de demonstrar às novas gerações o que significava estar ao serviço da PIDE antes de 1974. Mas evidenciam também as susceptibilidades que reinam entre membros do governo e que, não fora a gravidade das suas consequências, seriam dignas de fazer lembrar este sketch de "A Vida de Brian", em que Pilatos se indigna com o riso que a sua dicção provoca entre os subordinados, ameaçados de ter como destino as feras do coliseu.
Para além da deriva de autoritarismo controleiro por parte do governo, que dá cada dia mais razão ao discurso proferido por Paulo Rangel nas últimas comemorações do 25 de Abril, estes casos são claros sobre as movimentações no magma subterrâneo dos aparelhos partidários locais, que reclamam os respectivos jobs para os boys. Com efeito, depois de algum pudor em reocupar de imediato a administração pública central e local, na sequência da vitória eleitoral do Partido Socialista nas últimas legislativas, qualquer pretexto serve hoje, para varrer, incontinentemente, os quadros até aqui ocupados pela outra metade do bloco central.