as férias (I)
O cabelo pintado não escondia a tez envelhecida do couro cabeludo, nem dissimulava as rugas do rosto, esculpidas pelo tempo e suavizadas com os cremes, bases e demais tratamentos químicos que lhe davam aquele aspecto de mescla indistinta, composta de tecidos celulares e substâncias sintéticas.
Não fazia ideia do destino de férias que seguia Dona Genoveva de Moraes, agora especada no intervalo que fica entre duas carruagens, com um cigarro delgado e comprido a fumegar por entre dois dedos da mão direita, meticulosamente cuidados por uma manicure profissional. E era imprescrutável o olhar, guardado dentro dos imensíssimos óculos, perdido algures na janela que o sol encandeava por entre as árvores fugidias.
Não fazia ideia a mais vaga ideia do seu destino, repito, mas a sua figura sugeria uma estância balnear do Inatel, onde se cumprem escrupulosamente os rituais do pequeno almoço, da espreguiçadeira de verga no sol da manhã, da sesta depois do almoço, que termina inexoravelmente com uma peça de fruta descascada, ou do fim de tarde no sofá da sala de estar, antes de se sentar à frente do peixe cozido com legumes, no refeitório aromatizado pelo vapor das dietas, que antecede o deitar às sete e meia da tarde, nove da noite no máximo, caso haja convívio organizado pelos animadores sociais da empresa.
Do alheamento do mundo, e da rotina morta e viscosa dos dias regulares, fazia parte aquela espécie de lamento fugaz e costumeiro, ora sobre mais uma dezena de mortos no Iraque, ora sobre a jovem violada e depois esfaqueada, sete vezes, numa vila do litoral norte português. Ou então a subida do preço da gasolina e o incêndio de um apartamento na Amadora, motivado por fuga de gás, que apenas deixou dois feridos ligeiros e um gato morto de estimação.
Para todos estes sinais de que o mundo girava, apesar dos dias regulares de Dona Genoveva, ficava sempre esse sobressalto ténue e breve, também ele regular, próprio de quem suspira para poder voltar ao ritual dos dias. Dos dias regulares que aproximam serena e saudavelmente a morte, e que, até ao final de Setembro, decorrem na estância balnear do Inatel, na Europa.
Não fazia ideia do destino de férias que seguia Dona Genoveva de Moraes, agora especada no intervalo que fica entre duas carruagens, com um cigarro delgado e comprido a fumegar por entre dois dedos da mão direita, meticulosamente cuidados por uma manicure profissional. E era imprescrutável o olhar, guardado dentro dos imensíssimos óculos, perdido algures na janela que o sol encandeava por entre as árvores fugidias.
Não fazia ideia a mais vaga ideia do seu destino, repito, mas a sua figura sugeria uma estância balnear do Inatel, onde se cumprem escrupulosamente os rituais do pequeno almoço, da espreguiçadeira de verga no sol da manhã, da sesta depois do almoço, que termina inexoravelmente com uma peça de fruta descascada, ou do fim de tarde no sofá da sala de estar, antes de se sentar à frente do peixe cozido com legumes, no refeitório aromatizado pelo vapor das dietas, que antecede o deitar às sete e meia da tarde, nove da noite no máximo, caso haja convívio organizado pelos animadores sociais da empresa.
Do alheamento do mundo, e da rotina morta e viscosa dos dias regulares, fazia parte aquela espécie de lamento fugaz e costumeiro, ora sobre mais uma dezena de mortos no Iraque, ora sobre a jovem violada e depois esfaqueada, sete vezes, numa vila do litoral norte português. Ou então a subida do preço da gasolina e o incêndio de um apartamento na Amadora, motivado por fuga de gás, que apenas deixou dois feridos ligeiros e um gato morto de estimação.
Para todos estes sinais de que o mundo girava, apesar dos dias regulares de Dona Genoveva, ficava sempre esse sobressalto ténue e breve, também ele regular, próprio de quem suspira para poder voltar ao ritual dos dias. Dos dias regulares que aproximam serena e saudavelmente a morte, e que, até ao final de Setembro, decorrem na estância balnear do Inatel, na Europa.
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