sexta-feira, outubro 30, 2009

os rankings e o território (I)

Actualizando um exercício feito em 2008, o mapa da esquerda agrega territorialmente, por NUTS III, os resultados dos exames relativos ao Ranking de Escolas 2009. Como sempre, os meios de comunicação social (designadamente os jornais), concentram-se na análise dos dados  por escola (procurando assim diferenciar as melhores das piores) e fazem-no ignorando em regra o contexto socio-económico em que estas se inserem. Ora, ao agregar os dados ponderados(*), confirma-se que os rankings nos dão um retrato que é - na sua essência - um retrato do território e das suas desigualdades (marcado pelas diferenças entre o litoral e o interior). Isto é, mais do que distinguir estabelecimentos de ensino, os rankings reflectem os diferentes níveis de desenvolvimento económico e social do país. O destaque do Baixo Mondego (a unidade territorial com os melhores resultados) face à Grande Lisboa e ao Grande Porto poderá dever-se a uma menor discrepância de resultados entre as escolas que integram aquele espaço. Ou seja, a uma maior coexistência, em Lisboa e no Porto, de escolas com melhores e piores resultados (no caso do Baixo Mondego o desvio padrão situa-se em cerca de 7,6%, sendo bastante mais significativo em Lisboa, com 9%, e no Porto, com 8,2%).
(*) Os dados foram ponderados tendo em conta as médias obtidas e o número de exames realizados em cada escola, sendo o mesmo procedimento adoptado para apurar, a partir de cada concelho, os valores das NUTS III. Para compatibilizar resultados do Ensino Básico e do Ensino Secundário, as respectivas escalas de classificação foram convertidas numa escala de 0 a 100.

terça-feira, outubro 27, 2009

songs for the season


"It's the farthest place I've ever beenIt's a new frontier for me ■ And you balance things ■ Like you wouldn't believe ■ When you should just let things be ■ It's the narrative that must go on ■ Until the end of time ■ Small metal Gods ■ From a casting line ■ From a factory in Mumbai ■ Some manual labourer's bread and butter ■ And a single-minded lie"
(David Sylvian, Manafon, 2009)

segunda-feira, outubro 26, 2009

e mais um dia que não nasce

"A propósito de uma exposição como aquela a que agora me sujeito senti a precisão deste outro suporte para vos dizer três coisas e vos fazer um apelo. A primeira é que uma exposição é um momento que, por si só, nada é. Exactamente da mesma forma que a exposição, enquanto momento da técnica fotográfica, nada é. Apesar de ser o momento mágico em que tudo se passa. Com as características que se passa. Mas sem o aparelho fotografico, que aqui é o vosso corpo, sem o filme, que é a memória em que a realidade se projecta - com mais ou menos sensibilidade, com mais ou menos grão - uma exposição não é nada. E penso que sem a revelação e a fixação do vosso raciocínio esta exposição, como todas as outras, continuará a ser o que era. Nada. Poderá ser alguma coisa apenas quando ligardes o vosso ampliador, colocardes o papel, introduzirdes um negativo vosso e, assim, crieis o que quer que seja. A segunda coisa que vos quero dizer é que Afife é tão longe de Coimbra como quaisquer outros dois pontos do universo. Não são o mesmo ponto, e é tudo. Mas podem ser o mesmo ponto e é tudo novamente. Apesar de em Coimbra não haver uma serra tão bonita como a de Santa Luzia, em Afife há um cemitério. Com o que nós sabemos à porta. Mas sem a panorâmica revigorante do da Conchada. Não se pode ter tudo, nesta vida. Nasce-se e morre-se. Não há tempo a perder. Sobretudo porque na morte não só não se pode ter tudo, como na vida, como não se pode ser nada. A terceira era uma passagem de Gorki. Com as alterações resultantes das dezenas de vezes que a contei sem a reler, é apenas uma história que me dá muito jeito. Euzel é um órfão adoptado por uma aldeia. Todas as famílias da aldeia cuidaram dele rotativamente, até à idade adulta. A aldeia era igual a todas as aldeias. As famílias iguais a todos os grupos. Inveja, ódio, vingança, violência. O órfão cresceu sem pertencer a nenhum deles. Pertencia à aldeia. A aldeia tinha um conselho de anciãos. Quando adulto, as opiniões dele eram ouvidas pelos membros do conselho. Isenção. Era o que lhe apreciavam. Um dia a aldeia ardeu. E enquanto ardeu, todos se aplicaram por igual e em conjunto na tentativa frustrada de salvar a aldeia. Com o cenário desolador da aldeia destruída como pano de fundo, o conselho reuniu-se para decidir que rumo se havia de dar à aldeia. O órfão não disse nada. Quando lhe perguntaram o que pensava ele de tudo aquilo, respondeu: "... era preciso que estivesse sempre a arder...". O apelo que vos faço é o de colocarem o vós mesmos a hipótese de, entre um dia que nasce fumegante e uma morte que se lembra com o fogo, esta aldeia poder estar sempre a arder. Basta querer."

(Luís Paulo Sousa, "Quatro mortes e mais um dia que não nasce", 1997)

sábado, outubro 24, 2009

doclisboa


Filmes visionados na edição do doclisboa deste ano (do mais para o menos apreciado): Rachel, de Simone Bitton ("Uma exaustiva investigação sobre a morte de de uma jovem desconhecida, feita com um rigor normalmente reservado às grandes personalidades. O filme dá a palavra a todas as pessoas envolvidas na história de Rachel, uma jovem pacifista norte-americana morta na Faixa de Gaza, depois de esmagada por uma retroescavadora israelita, enquanto tentava evitar a destruição de uma casa palestiniana"); Kill the Referee, de Yves Hinaut ("Como podem alguns minutos de um jogo de futebol virar do avesso a vida de uma família inteira? O que sentem os "homens de preto" quando são alvo da fúria dos adeptos? Kill the Referee revela-nos a tensão secreta dos árbitros de futebol nos bastidores de uma grande competição internacional: o Mundial de 2006"); Lisboa Domiciliária, de Marta Pessoa ("Lisboa. As casas morrem de velhas, mas não morrem sozinhas. Nos prédios altos, por detrás das janelas, há um mundo dentro do mundo. São pessoas, idosos na maior parte, quase imóveis. Os corpos unem-se às casas e criam uma nova arquitectura. Para entrar neste universo é preciso mais do que passar a porta");  Saudade do Futuro, de Marie Clémence & Cesar Paes ("Um documentário musical que nos conta a história dos nordestinos pobres que viajam para o sul com o objectivo de encontrar fama e fortuna - ou pelo menos uma vida melhor - na vibrante cidade de São Paulo, no Brasil"); e Until the next Ressurrection, de Oleg Morozov ("Um filme de fantasmas com referências dostoievskianas Rodado ao longo de dez anos, quase todas as personagens morreram durante as filmagens. Algumas semanas após terminar a montagem, o realizador Oleg Morozov faleceu - um acontecimento que transformou a obra numa espécie de testamento e de discurso sobre o (não) valor da vida em situações limite").

quinta-feira, outubro 22, 2009

cinquenta anos


Astérix, de Goscinny e Uderzo

quarta-feira, outubro 21, 2009

a experiência do silêncio

"Não é apenas a edição das texturas livres proporcionadas por um naipe de grandes músicos (Evan Parker, Keith Rowe, Otomo Yoshihide, Sachiko M, John Tilbury ou Fennesz) que parecem ainda mais mínimas e reduzidas. É também a voz de Sylvian que está diferente. O seu timbre e entoação quase não se alteram ao longo das nove canções. Quem guarda a recordação do cantor pop pode sair desiludido desta opção. Mas a intenção de Sylvian é clara, adoptando o papel de narrador. A voz no centro. Em redor quase silêncio, figuras electroacústicas surgindo, de vez em quando, nos intervalos. Não é um disco fácil. Não é música de fundo. Não promete a luz como se esta fosse uma receita médica. Exige atenção aos detalhes. Pode parecer frio, demasiado virado para si próprio, mas quem mergulhar nele encontrará um universo de pequenas variações, de nuances, de recantos que apetece habitar. É um disco do nada. Do nada que cresce lentamente e é capaz de criar qualquer coisa de orgânico à sua volta. Movendo-se constantemente, mas parecendo imóvel, como um quadro na parede. Não se ouve, absorve-se, mistura de nostalgia e esperança, espaço para cada um construir um lugar de quietude só para si."
(Vitor Belanciano sobre Manafon, no Público de 1 de Outubro. Entrevista aqui)

terça-feira, outubro 20, 2009

frases que dizem tudo

segunda-feira, outubro 19, 2009

al sul


Moreira de Rei, Trancoso (Foto de Carlos Nolasco, 2007)

quinta-feira, outubro 15, 2009

o bloco e o futuro

A bipolarização e a escassa implantação política local foram as duas razões invocadas para justificar os fracos resultados eleitoriais obtidos pelo Bloco de Esquerda nas eleições autárquicas. Contudo, estando em jogo configurações político-partidárias muito distintas a nível concelhio (tanto em termos de propensão para a bipolarização como em termos de implantação local), essas razões revelam-se implausíveis para explicar o padrão de resultados verificado em todo o país.
Na verdade existe (não é de agora e todos bem o sabem), uma outra hipótese explicativa, bem mais consistente e estrutural, de que o recente desaire eleitoral é apenas um sintoma. A formulação desta hipótese é simples e assenta em dois pressupostos: o de que a capacidade de crescimento significativo do Bloco de Esquerda se faz essencialmente junto de eleitorado do PS; e que uma boa parte desse eleitorado, ao votar Bloco, tem a expectativa de que este contribua activamente para uma reorientação realista das políticas, não se confinando portanto ao altar do protesto (nem evitando, a todo o custo, qualquer compromisso com o poder e a governabilidade).
O BE encontra-se a atravessar um tempo decisivo de deinição, devendo reflectir, perante a encruzilhada, sobre o rumo a seguir (as opções são claras e a sua diferença é a que existe, por exemplo, entre limitar-se a propôr a suspensão do modelo de avaliação de desempenho docente ou apresentar e negociar, com o governo, um modelo alternativo). A eleição de José Manuel Pureza para líder parlamentar é um excelente sinal de que o Bloco de Esquerda quer trilhar o caminho da governabilidade e do compromisso com a vida quotidiana das pessoas. Que assim seja.

terça-feira, outubro 06, 2009

fado


A singular homenagem dos Durutti Column a Amália Rodrigues, em 1991, com a inclusão de um sampler da sua voz no tema Fado (do álbum Sex and Death).

segunda-feira, outubro 05, 2009

a inutilidade da pureza extraordinária

"É a vez da esquerda à esquerda do PS decidir se quer fazer alguma coisa com o milhão de votos que recebeu. Há duas possibilidades: ou Bloco e PCP se ficam a vigiar mutuamente na sua pureza extraordinária (e sem paralelo na Europa) e entregam a faca e o queijo à direita populista ou se entendem os dois para fazer dos seus 31 deputados alguma coisa. Basta que o BE e o PCP se sentem a uma mesa para decidir aquilo que realisticamente podem conquistar no Parlamento para a esquerda ter garantidas algumas vitórias importantes. (...) Acredito que no PCP e no BE haverá muita gente que respirou de alívio: se nenhum deles faz maioria com o PS nenhum deles poderá ser responsabilizado por nada. Erro. Mesmo que, daqui a uns anos, o seu eleitorado esteja ainda mais zangado, não deixará de os responsabilizar pela inutilidade em que transformaram o seu voto."

(Daniel Oliveira, no Expresso do sábado passado)

domingo, outubro 04, 2009

filmes do mês: setembro


Entre quatro filmes visionados no mês de Setembro, Inglorious Basterds, de Quantin Tarantino, entra para o conjunto de melhores do ano. Excelentes interpretações (em particular de Brad Pitt e Christoph Waltz), com a caricaturização necessária a um filme que, partindo de um contexto histórico concreto (a perseguição aos judeus na Alemanha nazi da II Guerra Mundial), pretende ser simultaneamente um filme de ficção/acção. O riso e o inverosímel a guiar uma forma original a revisitação de um dos acontecimentos mais dramáticos do Século XX.

quinta-feira, outubro 01, 2009

quixote ou nero?


Quem é hoje o Presidente da República portuguesa?