segunda-feira, setembro 29, 2008

as cidades e as casas (III)

"Tal como uma cidade saudável pode ser o motor do renascimento de um país ou região, uma cidade encalhada é um obstáculo a mais para a sua recuperação. A criação de uma política urbana, sistemática e bem articulada, deveria estar na agenda nacional. Mas a cultura política dominante tem sido exectamente a oposta: a do casuísmo como forma de acção.
(...) A utilização do parque habitacional da câmara pode - e deve - ser uma ferramenta ao serviço da revitalização da cidade. Mas esta é uma política pública por excelência: com património público, para benefício último do público, e de maneira a que tudo se passe em público."

(Do artigo de Rui Tavares, no Público de hoje)

sábado, setembro 27, 2008

palin for president

quinta-feira, setembro 25, 2008

as cidades e as casas (II)

"Se os prédios vazios são um desperdício, os prédios degradados são um verdadeiro delito contra a cidade. (...) A descapitalização não é desculpa - nunca é desculpa - para mais ninguém. Se eu for apanhado pela Brigada de Trânsito não posso dizer-lhes que estou descapitalizado e não pude fazer a inspecção periódica ou pagar o seguro obrigatório do meu carro. Se o meu rebanho destruir a seara do vizinho, quem se interessa se eu não pude pagar uma cerca? Os seus proprietários devem pagar pelas externalidades negativas dos prédios ao abandono, sem desculpas. Independentemente da burocracia municipal, das rendas congeladas, ou de qualquer outra justificação, a manutenção do edifício é obrigação moral e legal do proprietário. Está demasiado barato deixar prédios vazios a cair ou a arder nas nossas cidades. E está na hora de falar menos em rendas congeladas e olhar mais para as casas congeladas."

(Do artigo de Rui Tavares, no Público de 17 de Setembro)

quarta-feira, setembro 24, 2008

lisboa improvável (I)

Vista panorâmica sobre a cidade e rio, a partir de um terraço no Príncipe Real

terça-feira, setembro 23, 2008

as cidades e as casas (I)

"Há hoje, numa cidade como Lisboa, centenas de prédios vazios que não são vendidos nem alugados. (...) A questão política é saber se é legítimo, para a comunidade, preferir o mercado das casas para viver ao mercado que deixa as casas vazias e a cidade degradada e oca. A questão económica é saber que tipo de intervenção política seria sustentável. A questão política não precisa da questão económica para provar a sua legitimidade - mas precisa dela para encontrar uma boa resposta."

(Do artigo de Rui Tavares, no Público de 15 de Setembro)

segunda-feira, setembro 22, 2008

uma história da música (II)

Rio (Duran Duran, 1982)

sexta-feira, setembro 19, 2008

coisas que dignificam a política

Com o argumento de que o casamento entre pessoas do mesmo sexo não consta do seu Programa de Governo, o PS decidiu votar contra os Projectos de Lei do BE e do PEV a apresentar a 10 de Outubro, propondo disciplina de voto na bancada. Este motivo é desde logo contrariado pelas inúmeras situações de iniciativa legislativa em matérias ausentes do programa de governo (já para não falar das promessas que o PS virou do avesso). O novo modelo de gestão escolar, por exemplo, contraria claramente o compromisso do governo nesta matéria, o que não impediu a sua imposição monolítica a todas as escolas.
Mas, levado a sério, o argumento colocaria ainda uma outra questão: para que serve o Parlamento, enquanto espaço de apresentação de propostas plurais, se um governo maioritário se auto-limita a votar favoravelmente apenas as matérias que constam do seu programa de governo?

quinta-feira, setembro 18, 2008

dia do diploma

(Publicado, a horas certas, na Educação do meu Umbigo)

quarta-feira, setembro 17, 2008

regresso ao campo

"Em parte alguma do filme há excesso de beleza ou beleza gratuita. Nada foi filmado por ser bonito e nada é bonito, antes evidente: os montes crestados pelos incêndios, a densidade abafada do eucaliptal, o silêncio do sol do meio-dia, o cheiro pesado das adegas, o tijolo e o cimento à vista das casas sempre inacabadas, o serpentear incerto das estradas do pinhal, a dança alegre mas formal dos pares no terreiro nocturno. Tão pouco, sob seja que pretexto for, pessoas e coisas são tratadas com ironia ou desprazer. A distância que o filme põe entre si a serra e os seus habitantes não é a da aristocracia citadina e da desconfiança: é a distância necessária da escuta, da atenção."

(Do artigo de Paulo Varela Gomes, sobre o filme Aquele querido mês de Agosto, no Público de hoje)

terça-feira, setembro 16, 2008

richard wright

(1943-2008)
Era talvez o mais discreto dos cinco (e depois quatro) membros dos Pink Floyd. Mas nos teclados contribuiu, com a mesma criatividade de Roger Waters no baixo e David Gilmour na guitarra, para tornar distintivo o som da banda (veja-se por exemplo, ou melhor oiça-se, Shine on you crazy diamond e Any colour you like). São poucos os temas de sua autoria e em menor número ainda aqueles a que deu voz. Uma excepção é Summer'68, a segunda faixa do lado b (no vinil), de Atom Hearth Mother.

segunda-feira, setembro 15, 2008

efemérides

“"Se houvesse deputados coxos, o dia já era nosso", afirmou Alfredo Cunha. (…) "Temos de sensibilizar para a nossa causa", justificou Augusto Francisco, o presidente da Associação Nacional de Coxos (ANC), que acrescentou: "Se houvesse mais sócios, mais pessoas preocupadas com a nossa situação e mais apoios, a associação tinha pernas para andar."

(De um artigo no JN de hoje)

domingo, setembro 14, 2008

o choro e o riso do campo

"Aquele querido mês de Agosto" não é pretensioso nem cede à tentação de um olhar national geographic da cidade sobre o campo, apesar de os dois mundos estarem ali presentes. E resiste a fixar-se numa imagem passadista, entográfica e arqueológica, optando antes por um retrato que combina bem alguns traços estruturais do mundo rural com a sua actualidade. Alguns diálogos do quotidiano, contudo, têm problemas de pontuação, pela incompreensível falta de palavrões (num retraimento causado pela presença da câmaras). E horas depois do filme, ainda ressoa no ouvido - sem que tal propriamente desagrade - a banda sonora.

sexta-feira, setembro 12, 2008

árgia (II)

"Sabes que aqui por baixo há mortos - disse o Miguel, pulando sobre as velhas tábuas da capela. Isto foi há dois verões. O Miguel tinha cinco anos. Pular em cima dos mortos era o máximo, como este Verão o máximo é andar de bicicleta. Num lugar assim, os mortos são como os cães de família. As crianças sempre os conheceram, não têm medo. O medo é uma forma do que desconhecemos. Eu já não me lembrava que tinha medo no Convento, mas este Verão lembrei-me logo que anoiteceu e as cagarras começaram a guinchar, às cegas.
De dia o medo não se vê, porque os dias são verdes e azuis com rochas negras e uma espuma de sal, hortênsias, criptomérias, pavões, galinholas e estrelas-do-mar de um vermelho como as mulheres usam na Índia. (...) Às nove da noite ainda é possível ler ao ar livre. Depois o bosque desaparece num emaranhado de sons animais. E o jardim fica negro até não se distinguir o mar.
É então que dentro do convento as portas rangem. A adega está cheia de sombras. Uma fechadura chia. Ouvem-se lamentos, um roçar de asas, latidos. (...) As celas estão abertas, uma a uma, ao longo dos corredores. Camas de dossel, cómodas com virgens e cruzes, nichos e portadas que de vez em quando batem com o vento, revelando um rasgão negro na parede, que é o mar. (...) No século XVI, por aqui se acoitaram raparigas teimosas, fugidas de casa de seus pais, recusando casamento. (...) Homens que deixavam para trás algum crime, alguma dor, e caminhavam descalços desde as furnas, desde a povoação. (...) E um dia, depois da terra tremer, cobrindo tudo de fogo, cinza e lava, a estas irmãs sucederam irmãos, que foram erguendo o Convento. (...) Foi sobre estas almas que o Miguel pulou, sem medo. Honra aos mortos. É assim que a história continua."

(Do artigo de Alexandra Lucas Coelho, no Ípsilon de hoje)

quarta-feira, setembro 10, 2008

some summer remains

Fajã de Santo Cristo, Ilha de São Jorge, Açores
(Foto de Susana Neto)

segunda-feira, setembro 08, 2008

bersabeia

"Transmite-se em Bersabeia esta crença: que suspensa nos céus existe outra Bersabeia, onde ponderam as virtudes e os sentimentos mais elevados da cidade, e que se Bersabeia terrena tomar como modelo a celeste se tornará uma só com ela. A imagem que a tradição divulga é a de uma cidade de ouro maciço, com cavilhas de prata e portas de diamante, uma cidade-jóia, toda entalhes e engastes, como só o máximo de estudo laborioso pode produzir aplicando-se em matérias de valor. Fiéis a esta crença, os habitantes de Bersabeia fazem honra a tudo o que lhes evoca a cidade celeste: acumulam metais nobres e pedras raras, renunciam aos abandonos efémeros, elaboram formas de comedida compostura."

(Italo Calvino, As Cidades Invisíveis, 1990)

sábado, setembro 06, 2008

ciência viva

Desconhecendo em absoluto o que se sente com um tremor de terra, ou querendo ter a noção de uma forma previamente determinada, a Praça do Rossio, em Lisboa, pode ser uma boa opção. Sensivelmente a meio, no espaço que fica em frente à estátua erigida a D. Pedro IV (que dizem representa, na verdade, o Imperador mexicano Maximiliano) e a grelha do respirador da rede de metro, sente-se a terra, discretamente, a estremecer. O efeito, muito real, deve-se à circulação subterrânea das composições. Mas não custa pensar, atendendo ao lugar em que se está, que poderia igualmente tratar-se de uma espécie de eco, permanente, da memória da terra.

quinta-feira, setembro 04, 2008

quarta-feira, setembro 03, 2008

vocês decidam-se, pá

"Ou Obama é um risco demasiado grande num mundo perigoso, ou não há risco, porque nenhum presidente consegue mudar a política internacional dos EUA (e como se explica Bush?). Ou Obama é um intervencionista ou um isolacionista (nenhuma das duas: em política internacional parece ser mais institucionalista e multilateralista do que é comum nos EUA). Ou o pessoal vota em Obama só por ser negro, ou por ele ser um intelectual com ideias a mais. Ou a esquerda europeia é cega no seu antiamericanismo, ou a esquerda europeia está cega na sua paixão por Obama. Não pode ser tudo verdade ao mesmo tempo."

(Do artigo de Rui Tavares, no Público de 1 de Setembro)

terça-feira, setembro 02, 2008

milagres da abstinência

segunda-feira, setembro 01, 2008

september’s here again

The sun shines high aboveThe sounds of laughterThe birds swoop down uponThe crosses of old grey churchesWe say that we’re in loveWhile secretly wishing for rainSipping coke and playing gamesSeptember’s here againSeptember’s here again

(David Sylvian, Secrets of Beehive, 1987)