a vida dos outros (III)
"Sejamos claros: o entendimento segundo o qual um funcionário público está proibido de criticar o Governo por o primeiro se encontrar sob a dependência hierárquica do segundo é um entendimento que atropela os mais elementares direitos democráticos, que visa amordaçar a liberdade de expressão e coarctar a participação política dos cidadãos, instaurar um clima de medo e de obediência aos chefes e tornar permissíveis todos os abusos dos poderes. Esse entendimento é um entendimento antidemocrático e antiliberal, próprio de uma ditadura. Que se exija uma lealdade aos chefes que proíbe a crítica política é algo que não merece outra qualificação senão a de fascista.
(...) Poderia haver um inaceitável exagero nesta indignação se, perante estes abusos pontuais (e é verdade que ainda são pontuais), os membros do Governo envolvidos tivessem reagido com determinação para repor o clima de liberdade, justiça e tolerância e para reprimir os aprendizes de pides que lhes lambam as botas. Mas não: quer o primeiro-ministro quer os ministros da Saúde e da Educação nada fizeram nesse sentido, confortando pelo contrário, pela sua acção ou inacção, os mais baixos instintos dos seus acólitos ou seguiram-lhe mesmo os passos."
(José Vítor Malheiros, no Público de hoje)
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