quinta-feira, novembro 26, 2009
Não é de facto forçoso que os professores tenham uma "«carreira plana» isenta de escalões profissionais". Há até muito boas razões para que assim não seja (desde que devidamente ponderadas e assentes no objectivo de melhorar a qualidade do ensino). O problema é que entre essas razões não figura, seguramente, a fixação trapalhona e a martelo de escalões distintos, com a exclusiva finalidade de adaptar o modelo de avaliação de desempenho da função pública aos docentes do ensino básico e secundário. Aliás, este objectivo sempre escondeu um outro, bem mais profundo e que se tornou crescentemente indisfarçável: o de proceder a um corte orçamental na educação, descurando a mínima reflexão sobre a adequabilidade das medidas e o seu impacto no funcionamento das escolas e na qualidade de ensino.
A degradação da escola pública foi, na verdade, conduzida por quem - na senda de uma engenharia sociológica sobranceira e ignorante - actuou sem revelar especial capacidade para compreender (e valorizar) o que é o universo do ensino não superior.
quarta-feira, novembro 25, 2009
inexplicavelmente impossível
Comprar um simples caderno ou um bloco de notas na estação de Santa Apolónia, uma das portas de entrada da capital de um país europeu.
terça-feira, novembro 24, 2009
escutas
"O eng. Sócrates foi apanhado por uma escuta a falar com Armando Vara. Claro que fortuitamente, ou seja, a escuta não se destinava a recolher informações sobre ele, mas sobre Vara. De qualquer maneira, dezenas de pessoas ficaram a saber sobre ele o que em nenhuma circunstâcia deviam saber e como de costume chegaram aos jornais rumores - não autentificados - que o prejudicam. Uma lei sensata mandaria selar imediatamente a gravação e, se por acaso existissem indícios de alguma actividade criminosa do primeiro-ministro, determinaria que ele respondesse pelo que fizera (ou deixava de fazer) no fim do seu mandato. A lei vigente junta o pior de dois mundos. Cria suspeitas que não resolve e, de caminho, diminuiu a principal autoridade de que os portugueses dependem."
(Do artigo de Vasco Pulido Valente, no Público de 20 de Novembro)
(Do artigo de Vasco Pulido Valente, no Público de 20 de Novembro)
segunda-feira, novembro 23, 2009
sexta-feira, novembro 20, 2009
moderar o acesso a bens públicos
"(...) Por que razão parece haver uma predilecção por “sinais de trânsito” monetários (incentivos)? Porque isso reflecte a visão mercantil da sociedade de quem os promove (para não falar de interesses mercantis). Qual é o problema de haver (ou ter havido) quem promova a visão mercantil a partir do ministério da saúde? É simples:
Primeiro. A visão mercantil da sociedade que assume uma essência gananciosa dos humanos, sendo falsa, tende a tornar-se verdadeira quando todas as relações sociais (incluindo a provisão e o uso de bens essenciais à vida) são transformadas em transacções mercantis.
Segundo. A transformação de todas as relações sociais em relações mercantis exclui (da prestação de cuidados de saúde) quem não dispõe do passaporte que nessa sociedade abriria todas as portas – o dinheiro.
Terceiro. A generalização do dinheiro a todas as esferas relacionais privar-nos-ia de bens (inclusive na prestação de cuidados de saúde) que o dinheiro não pode comprar. Estou a pensar na honestidade, na solidariedade e na compaixão."
(José Maria Castro Caldas, a propósito de uma conversa entre João Rodrigues e Porfírio Silva sobre o recurso a taxas moderadoras no Sistema Nacional de Saúde).
Primeiro. A visão mercantil da sociedade que assume uma essência gananciosa dos humanos, sendo falsa, tende a tornar-se verdadeira quando todas as relações sociais (incluindo a provisão e o uso de bens essenciais à vida) são transformadas em transacções mercantis.
Segundo. A transformação de todas as relações sociais em relações mercantis exclui (da prestação de cuidados de saúde) quem não dispõe do passaporte que nessa sociedade abriria todas as portas – o dinheiro.
Terceiro. A generalização do dinheiro a todas as esferas relacionais privar-nos-ia de bens (inclusive na prestação de cuidados de saúde) que o dinheiro não pode comprar. Estou a pensar na honestidade, na solidariedade e na compaixão."
(José Maria Castro Caldas, a propósito de uma conversa entre João Rodrigues e Porfírio Silva sobre o recurso a taxas moderadoras no Sistema Nacional de Saúde).
quinta-feira, novembro 19, 2009
os rankings e o território (III)
A representação cartográfica por concelho dos resultados dos exames nacionais (2009), reforça o anterior retrato social do país. A evidência de manchas contíguas (acima da média nacional na faixa litoral Centro e Norte e abaixo dessa média no interior Norte e no Sul), mostra como podem ser muito equívocas as interpretações que associam linearmente os resultados dos exames ao desempenho das escolas, ignorando portanto aquele que é porventura um dos factores explicativos mais importantes: o do contexto social e económico em que os estabelecimentos de ensino se inserem.
A reforçar esta hipótese, observa-se ainda a tendência para que os concelhos capitais de distrito, ou concelhos cujas áreas urbanas são relevantes no contexto do distrito em que se inserem, obterem melhores resultados que os concelhos envolventes (particularmente nas regiões do interior e no Sul). O que sugere a existência de uma forte correlação entre os níveis de urbanização (com tudo o que se lhe pode associar em termos de desenvolvimento) e o desempenho escolar dos alunos.
segunda-feira, novembro 16, 2009
filmes do mês: outubro
Welcome, de Philippe Lioret, Rachel, de Simone Bitton, Kill the Referee, de Yves Hinant (estes últimos exibidos no DocLisboa). O que leva um jovem imigrante iraquiano em França a suspender a vida por um fio, ao tentar atravessar a nado a corrente gelada do Canal da Mancha? O que leva uma jovem americana a abandonar o conforto de uma existência almofadada para proteger, com a sua própria vida, a vida de pessoas em Gaza? O que leva alguém a querer ser árbitro de futebol?
quinta-feira, novembro 12, 2009
tarde caíu, pior ter existido
"Perante a efeméride da queda do Muro de Berlim, alguma esquerda não resiste lembrar-nos de que, não obstante a liberdade chegada aos países de Leste, 1989 significou também o triunfo do neoliberalismo e, com ele, a universalização da desregulação económica, a retracção do Estado Social e um continuado cavar das desigualdades entre os países ricos e os países pobres. Isso até será verdade, mas a grande falácia é pensarmos que a intocada hegemonia do neoliberalismo se deveu à queda do Muro de Berlim.
Bem ao contrário: é o facto de o Muro ter sido construído em nome de um mundo radicalmente mais justo que há muito rouba possibilidades a quem queira imaginar um mundo radicalmente mais justo. O Muro de Berlim e o regime que o ergueu continuam a dar mau nome a qualquer esperança que se atreva a tentar superar o capitalismo predatório. Tarde caiu, pior ter existido."
(Bruno Sena Martins, no 5dias, via Arrastão)
Bem ao contrário: é o facto de o Muro ter sido construído em nome de um mundo radicalmente mais justo que há muito rouba possibilidades a quem queira imaginar um mundo radicalmente mais justo. O Muro de Berlim e o regime que o ergueu continuam a dar mau nome a qualquer esperança que se atreva a tentar superar o capitalismo predatório. Tarde caiu, pior ter existido."
(Bruno Sena Martins, no 5dias, via Arrastão)
quarta-feira, novembro 11, 2009
surpresas
A morte recente, aos quase cento e um anos, de Claude-Lévi-Strauss. E a comemoração do nonagésimo aniversário, em vida, de Mikhail Kalashnikov.
segunda-feira, novembro 09, 2009
domingo, novembro 08, 2009
sábado, novembro 07, 2009
quinta-feira, novembro 05, 2009
os rankings e o território (II)
Uma análise que evidencia a importância dos contextos locais no "desempenho" das escolas é-nos também dada quando, a partir da informação relativa aos resultados dos exames nacionais de 2009, apuramos o peso percentual de escolas com média negativa numa determinada área.
À semelhança do mapa anterior (relativo à média de resultados por NUTS III), torna-se claro o contraste entre o Litoral Norte do País (onde em regra o número de escolas com médias de classificações negativas não atinge os 10%) e o Interior Norte e Sul onde, com a excepção do Algarve e de algumas NUTS do Interior Centro, a percentagem de escolas com resultados negativos nos exames de 2009 é superior a 12,5% (chegando a atingir valores na ordem dos 30% no Alto Alentejo e Douro).No caso da Grande Lisboa, a comparação entre os dois mapas permite ainda ilustrar como, num mesmo contexto territorial, podem coexistir boas e más escolas. Antes de se estabelecer uma relação directa entre o desempenho dos docentes (e da própria escola) e esses resultados, importaria analisar essa relação com os perfis socio-económicos dos alunos que frequentam cada estabelecimento de ensino.