domingo, abril 29, 2007
A excelente fotografia do cartaz de Death of a President, de Gabriel Range (escolhido para rematar a sessão de encerramento da edição 2007 do Indie Lisboa), ilustra bem o esforço de realização de um filme que fosse plausível e convincente. Tratando-se de uma ficção sobre o assassinato de George W. Bush, Death of a President vai adquirindo um progressivo realismo, ao reproduzir – por similitude – a esquizofrenia e o desespero irracional das reacções da administração americana ao 11 de Setembro. E é, nesse sentido, um filme sobre o passado e o presente, mais do que uma conjectura sobre um putativo futuro. Evidencia a lógica de encontrar e forjar "culpados naturais", base e sustento da arquitectura da guerra contra o terrorismo, a par da incapacidade em perceber o acumular de indignação e revolta em relação à morte incessante e inútil de soldados no Iraque.
sábado, abril 28, 2007
o bucólico e a cidade
Estava um pelo púbico repousado, no imaculado lavatório de uma finérrima sala de chá.
sexta-feira, abril 27, 2007
quinta-feira, abril 26, 2007
imprensa escrita
O Diário de Notícias significava para mim mais ou menos o mesmo que o pneu sobressalente para um automobilista. No caso de se ter esgotado o Público, a opção recaía em regra sobre o DN. Quanto ao Expresso, só é adquirido (e mesmo assim com grandes reservas morais) nos raríssimos acessos de necessidade absoluta de fazer viagens longas com um jornal.
Em termos de "imaginário territorial", o DN ocupava um lugar intermédio entre o Público (o jornal nacional por excelência, cosmopolita) e o Jornal de Notícias (que salvo as páginas iniciais surge como o retrato, em manta de retalhos, de um país).
terça-feira, abril 24, 2007
domingo, abril 22, 2007
o silêncio da maioria
Dos cerca de 44 mil militantes do CDS-PP, 83% decidiram não se pronunciar sobre a liderança do partido. Paulo Portas foi eleito por 13% dos militantes, contra 4% que votaram em Ribeiro e Castro. Que razões terão levado ao silêncio da maioria? Estarão com Portas apesar de não terem votado? Farão ainda parte das fileiras do CDS-PP?
sábado, abril 21, 2007
nestum figos
Era o meu Nestum preferido e hoje não o consigo encontrar em parte nenhuma. Sobreviveu a todos os ataques de gula (já o Nestum Arroz não teria a mesma sorte, sendo completamente posto de lado depois de me levar à cama dois dias seguidos, em estado de profunda má disposição, na sequência de uma overdose de quatro pratos numa tarde de Verão).
O Nestum Figos era um bom nestum em qualquer modalidade. Tanto na versão "leite frio" como na versão "leite quente" ou "morno". Tanto esparso ("canja de galinha") como compacto ("betão armado"). Delicioso em crocante ou completamente desfeito. Uma variada ementa à disposição.
O Nestum Figos era um bom nestum em qualquer modalidade. Tanto na versão "leite frio" como na versão "leite quente" ou "morno". Tanto esparso ("canja de galinha") como compacto ("betão armado"). Delicioso em crocante ou completamente desfeito. Uma variada ementa à disposição.
Sempre achei surpreendente a coragem da Nestlé em colocar no mercado cereais com sabor a figos (imagino todos os estudos de opinião a desaconselhá-lo vivamente, e pelos vistos o mercado acabaria por dar-lhes razão), mas o mais curioso era mesmo o facto de eu praticamente não gostar de figos que não viessem em forma de nestum.
sexta-feira, abril 20, 2007
volte sempre, camarada
Só hoje me apercebi que Odete Santos deixou, a 12 de Abril, o Parlamento. Esperemos que isso nada tenha que ver com uma decisão do Comité Central por causa do strip involuntário e da queda de um dente em directo, no Concurso dos Grandes Portugueses.
quarta-feira, abril 18, 2007
longa vida pasteurizada
Voltando às Novas Oportunidades, afirmam as figuras nacionais que dão rosto à campanha publicitária que "aprender vale a pena". Vejamos. O programa Novas Oportunidades permite atribuir uma certificação de nível secundário (12º Ano) a "pessoas com 18 ou mais anos e que tenham no mínimo três anos de experiência profissional ou que tenham frequentado o secundário há mais de três anos, sem o concluir" (ver Público de 16 de Abril).
Imagine-se portanto um jovem que, matriculado no 10º ano, decide entretanto abandonar os estudos e começar a trabalhar (ou decide simplesmente abandonar os estudos). Não completa o Secundário, mas pode ingressar no mercado de trabalho ou dedicar-se tranquilamente ao dolce far niente, e nessa condição permanecer durante três anos e um dia. Pode então candidatar-se ao programa Novas Oportunidades, que sem problema de maior lhe atribuirá o diploma de estudos secundários, chancelando a equivalência ao 12º ano.
Chamam a isto "ver certificadas competências adquiridas ao longo da vida". Como se três anos na vida de um jovem comportasse "biografia" suficiente para se poderem colocar as coisas nestes termos.
terça-feira, abril 17, 2007
domingo, abril 15, 2007
it's the statistics, stupid
Há qualquer coisa que não convence na campanha das Novas Oportunidades do Ministério da Educação. Por mais que os spots televisivos se esforcem por evitar a desconsideração de profissões desempenhadas por pessoas que não prosseguiram estudos, transmitindo a ideia de que uma Judite de Sousa seria vendedora de quiosque em vez de jornalista, ou que um Carlos Queiroz seria cortador de relva em vez de treinador, a verdade é que subsiste inevitavelmente uma noção de profissões de primeira e de segunda.
Mas o principal problema não é sequer este (esta é apenas uma questão de marketing com gosto duvidoso). O problema reside, no que concerne ao processo de Reconhecimento e Validação de Conhecimentos e Competências (RVCC) - parte integrante da iniciativa Novas Oportunidades - que a mensagem deveria ser justamente a contrária: a da importância dos conhecimentos e competências adquiridas por via não escolar, e que tornam justa a atribuição e o reconhecimento de um grau de escolaridade que lhes seja equivalente. É dizer portanto à senhora do quiosque, ou ao senhor que corta a relva no estádio, que embora não tendo prosseguido a via escolar, conseguiu adquirir aprendizagens ao longo da vida que equivalem às aprendizagens escolares.
Mas se a mensagem publicitária está em dessintonia com o espírito RVCC, a que se dirige então? A desincentivar o abandono e o insucesso escolar? Faria sentido, caso não representasse acrescidamente a forma de anunciar modos alternativos, seguramente mais suaves, de cumprir a escolaridade obrigatória. Com efeito, uma boa parte dos beneficiários das Novas Oportunidades serão jovens que não concluíram o 9º ou o 12º Ano, e que encontram nesta iniciativa uma forma de o fazer. Nada contra (como diziam os outros), a não ser o facto de se institucionalizar uma forma alternativa, e menos exigente, para responder ao problema do insucesso e abandono escolares.
Por isso as Novas Oportunidades exalam o aroma tão familiar do facilitismo, na usual estratégia de dar um salto em frente perante os problemas, em vez de os equacionar e enfrentar no seu lugar próprio. E a motivação para que isto assim seja não será seguramente nova: são os números, estúpido!
sábado, abril 14, 2007
mudastí
Mulholland Drive II (ou Inland Empire, se se prefrir para soar a coisa nova) tem mais ou menos a ambiência - em versão para cinema - da publicidade do “mudastí”, com a diferença de não comportar mudança nenhuma.
segunda-feira, abril 09, 2007
sexta-feira
(Episódios de Páscoa n'A Terceira Noite)
Prémio "A deposição do tirano":
b
Prémio "Se gostasse de futebol, eu poderia ter dito isto":
sábado, abril 07, 2007
absoluto
Diegrossestille, de Philipe Gröning (2005)
"Um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos; mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento, a terra tremeu; mas o Senhor não estava no tremor de terra. Passado o tremor de terra, acendeu-se um fogo; mas o Senhor não estava no fogo." (Primeiro Livro dos Reis, 11 e 12)
E também não Estava no silêncio. Era o silêncio. O mais absoluto dos silêncios.
quinta-feira, abril 05, 2007
quarta-feira, abril 04, 2007
maiores de 18
Não passaria pela cabeça da estação pública de televisão programar o "Garganta Funda", ou outro filme pornográfico, para o horário nobre das suas emissões. Mas é com a maior descontracção, e com evidente duplicidade de critérios, que agenda a "Paixão" de Mel Gibson para a próxima sexta-feira, um filme conceptualmente obsceno e, sobretudo, de uma violência incomensurável.
domingo, abril 01, 2007
revolução cultural
(No contexto da prop0sta de Rui Tavares a José Sócrates, sobre o envio de uma Carta aos Portugueses, que pode igualmente ser lida aqui):
"(...) Praticamente nenhum líder internacional é tratado pelo seu título. (...) Nas universidades estrangeiras, os alunos tratam catedráticos por “senhor/senhora” e muitas vezes pelo primeiro nome. Em Portugal, a mania dos títulos poderia ser apenas ridícula, caso não fossemos o país com menos licenciados da Europa Ocidental. A ideia de que o conhecimento é apenas o meio de obtenção de um título degrada a própria nobreza do conhecimento. E, para confirmar esta ideia, lembremos como no nosso país a titulocracia (palavra que acabei de inventar) convive com um anti-intelectualismo agressivo. Há quem tenha identificado esta tradição titulocrática com a subserviência, o medo da autoridade e o imobilismo – características que possuímos em abundância, e qualquer delas nociva a uma sociedade do conhecimento ou sequer a uma sociedade livre. Faz sentido: tivemos um ditador mesquinho e obscurantista que, no entanto, era “Professor Doutor”."