it's the statistics, stupid
Há qualquer coisa que não convence na campanha das Novas Oportunidades do Ministério da Educação. Por mais que os spots televisivos se esforcem por evitar a desconsideração de profissões desempenhadas por pessoas que não prosseguiram estudos, transmitindo a ideia de que uma Judite de Sousa seria vendedora de quiosque em vez de jornalista, ou que um Carlos Queiroz seria cortador de relva em vez de treinador, a verdade é que subsiste inevitavelmente uma noção de profissões de primeira e de segunda.
Mas o principal problema não é sequer este (esta é apenas uma questão de marketing com gosto duvidoso). O problema reside, no que concerne ao processo de Reconhecimento e Validação de Conhecimentos e Competências (RVCC) - parte integrante da iniciativa Novas Oportunidades - que a mensagem deveria ser justamente a contrária: a da importância dos conhecimentos e competências adquiridas por via não escolar, e que tornam justa a atribuição e o reconhecimento de um grau de escolaridade que lhes seja equivalente. É dizer portanto à senhora do quiosque, ou ao senhor que corta a relva no estádio, que embora não tendo prosseguido a via escolar, conseguiu adquirir aprendizagens ao longo da vida que equivalem às aprendizagens escolares.
Mas se a mensagem publicitária está em dessintonia com o espírito RVCC, a que se dirige então? A desincentivar o abandono e o insucesso escolar? Faria sentido, caso não representasse acrescidamente a forma de anunciar modos alternativos, seguramente mais suaves, de cumprir a escolaridade obrigatória. Com efeito, uma boa parte dos beneficiários das Novas Oportunidades serão jovens que não concluíram o 9º ou o 12º Ano, e que encontram nesta iniciativa uma forma de o fazer. Nada contra (como diziam os outros), a não ser o facto de se institucionalizar uma forma alternativa, e menos exigente, para responder ao problema do insucesso e abandono escolares.
Por isso as Novas Oportunidades exalam o aroma tão familiar do facilitismo, na usual estratégia de dar um salto em frente perante os problemas, em vez de os equacionar e enfrentar no seu lugar próprio. E a motivação para que isto assim seja não será seguramente nova: são os números, estúpido!
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