domingo, abril 15, 2007

it's the statistics, stupid

Há qualquer coisa que não convence na campanha das Novas Oportunidades do Ministério da Educação. Por mais que os spots televisivos se esforcem por evitar a desconsideração de profissões desempenhadas por pessoas que não prosseguiram estudos, transmitindo a ideia de que uma Judite de Sousa seria vendedora de quiosque em vez de jornalista, ou que um Carlos Queiroz seria cortador de relva em vez de treinador, a verdade é que subsiste inevitavelmente uma noção de profissões de primeira e de segunda.
Mas o principal problema não é sequer este (esta é apenas uma questão de marketing com gosto duvidoso). O problema reside, no que concerne ao processo de Reconhecimento e Validação de Conhecimentos e Competências (RVCC) - parte integrante da iniciativa Novas Oportunidades - que a mensagem deveria ser justamente a contrária: a da importância dos conhecimentos e competências adquiridas por via não escolar, e que tornam justa a atribuição e o reconhecimento de um grau de escolaridade que lhes seja equivalente. É dizer portanto à senhora do quiosque, ou ao senhor que corta a relva no estádio, que embora não tendo prosseguido a via escolar, conseguiu adquirir aprendizagens ao longo da vida que equivalem às aprendizagens escolares.
Mas se a mensagem publicitária está em dessintonia com o espírito RVCC, a que se dirige então? A desincentivar o abandono e o insucesso escolar? Faria sentido, caso não representasse acrescidamente a forma de anunciar modos alternativos, seguramente mais suaves, de cumprir a escolaridade obrigatória. Com efeito, uma boa parte dos beneficiários das Novas Oportunidades serão jovens que não concluíram o 9º ou o 12º Ano, e que encontram nesta iniciativa uma forma de o fazer. Nada contra (como diziam os outros), a não ser o facto de se institucionalizar uma forma alternativa, e menos exigente, para responder ao problema do insucesso e abandono escolares.
Por isso as Novas Oportunidades exalam o aroma tão familiar do facilitismo, na usual estratégia de dar um salto em frente perante os problemas, em vez de os equacionar e enfrentar no seu lugar próprio. E a motivação para que isto assim seja não será seguramente nova: são os números, estúpido!