sábado, setembro 29, 2007

coisas do estado, estado das coisas

Contam, os tempos que correm, notícias do meu país...
"1. A Lusoponte tem o exclusivo das travessias do Tejo a sul de Vila Franca.
2. A legislação que definiu isso foi aprovada quando Ferreira do Amaral era ministro.
3. Graças a uma intervenção do loby empresarial, a hipótese de construir o aeroporto em Alcochete tornou-se real.
4. Já estava a ser planeada uma terceira ponte, ferroviária; a hipótese do aeroporto fará com que seja também rodoviária, algo que levanta a questão do exclusivo.
5. Ferreira do Amaral já não é ministro: preside à Lusoponte."

sexta-feira, setembro 28, 2007

esta merda dos partidos é que divide a malta, pá!

“Preocupações, crises políticas, pá! «A culpa é dos partidos, pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta, pá!» «Pois, pá, é só paleio, pá, o pessoal não quer é trabalhar, pá! Razão tem o Jaime Neves, pá!» (…) Eu quero lá saber deste paleio, vou mas é ao futebol, pronto! Viva o Porto, viva o Benfica! Lourosa! Lourosa! Marrazes! Marrazes! Fora o árbitro! Gatuno! Qual gatuno, qual caralho! (…) Pois é: tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te, filho, entretém-te!”

(José Mário Branco, FMI, 1982)

quarta-feira, setembro 26, 2007

diz que é uma espécie de sketch

E não uma fotografia tirada em Marrocos, que uns turistas espanhóis até julgaram poder ajudar a localizar a pequena Maddie. De facto, viria a confirmar-se que se tratava apenas da rodagem de um sketch da nova série do "Diz que é uma espécie de Magazine", sendo óbvio que o indevíduo da direita é Ricardo Araújo Pereira e o moço do meio, o que carrega a miúda, José Diogo Quintela.

terça-feira, setembro 25, 2007

sempre a mesma cantiga

Também se agumentava que a despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez significava uma demissão do Estado no combate à chaga social do aborto. Ou que o número de abortos iria disparar e que o o importante era apoiar a natalidade (como se tal fosse inconciliável com a despenalização), e continuar por isso a esmagar, militantemente, as consciências individuais.
Agora, perante a medida que permite distribuir seringas a toxicodependentes nas cadeias, visando diminuir os casos de contágio de doenças como a sida, a hepatite e a tuberculose (sem que o consumo e o tráfico sejam despenalizados), a argumentação segue os mesmos tramites e apenas se adapta à questão, como fica bem claro neste editorial do DN: Com a distribuição de seringas o Estado assume uma derrota (não conseguindo "travar a entrada de drogas nas cadeias, decide minimizar as suas consequências"); vai verificar-se um "aumento do consumo e do tráfico de substâncias proibidas por parte de quem está detido" (é imensa a malta que apenas aguardava por isto para se começar a injectar); e que antes da distribuição de seringas o importante era mesmo a "eliminação do tristemente famoso balde higiénico" ou a adopção de medidas tendentes a "melhorar as condições das cadeias nacionais, entre elas o drama que tem anos da sobrelotação" (o que passa a ser impossível, claro está, com a implementação desta medida).

domingo, setembro 23, 2007

cidades com estátuas (III)

Marx e Engels na Alexander Platz (Berlim), com o olhar dirigido a Leste

sábado, setembro 22, 2007

animal farm 2007

"Portugal é o país-membro [da OCDE] com 'a maior selectividade no acesso ao ensino superior'. Em Portugal é determinante a influência que o facto de os pais serem licenciados tem no acesso dos filhos a um curso superior: 'Há uma sobreposição de filhos de licenciados no superior e estes jovens têm 3,2 mais probabilidades de tirar um curso do que seria normal'. Enquanto na Espanha, Irlanda e Finlândia, esse ratio é de 1,1, ou seja não influencia e há igualdade no acesso (...).
Estes dados mostram de uma forma crua e bruta a desigualdade que se vive na sociedade portuguesa (...) [e] vêm completar os indicadores que dizem que Portugal é o país com maior fosso entre pobres e ricos (...). Mas tão ou mais grave, em termos de desigualdade social, é o facto de este estudo [Education at a Glance 2007] demonstrar que há, por assim dizer, uma reprodução de classe em Portugal. Ou seja, a sociedade não permite igual acesso em igualdade de circunstâncias e com igualdade de oportunidades a todos os seus cidadãos, impedindo assim a mobilidade social que é própria das democracias (...).
Esta realidade é ainda mais chocante quando o discurso que se ouve do poder e dos partidos de poder em Portugal é um discurso cada vez mais elitista e ainda mais segregador (...), de ataque ao ensino público, como tem sido feito por alguns dirigentes político-partidários. Quando, face à barreira constitucional da privatização absoluta do ensino, surgem formas de privatização encapotada, como a ideia de que o Estado pague e delegue o ensino dos cidadãos a instituições privadas, através de mecanismos como, por exemplo, o cheque-ensino. Mas em que, claramente, é assumido que este financiamento é uma parcela do que as instituições privadas, de facto, cobrariam, abrindo campo a maior discriminação."

(Do artigo de São José Almeida no Público de hoje, um dos 365 dias do Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos)

sexta-feira, setembro 21, 2007

david sylvian

De hoje a um mês, no Grande Auditório do CCB

quarta-feira, setembro 19, 2007

politólogos imperfeitos*

Ruca não tem dúvidas: se o Dalai Lama até passou a necessitar de autorização do governo chinês para reencarnar, como é que o governo português poderia alguma vez dispensar-se de pedir à China licença para o receber?

(*) Singela homenagem ao Irmão Lúcia

terça-feira, setembro 18, 2007

urgências

(Cartoon de Luís Afonso, no Público de ontem)

segunda-feira, setembro 17, 2007

total clarividência

"'A posição portuguesa foi assumida com total clarividência quanto aos interesses [de Portugal] nesta matéria e sem nenhuma pressão de nenhum governo.' A frase pretente explicar a razão por que o Governo não recebeu o Dalai Lama e foi pronunciada em público por Luís Amado, na qualidade de ministro dos negócios estrangeiros de Portugal, numa conferência de imprensa dada sobre assuntos relativos à presidência da União Europeia (...).
O Governo português satizfaz [assim] plenamente os anseios do Governo chinês e assume-o com orgulho e voluntariamente, sem sequer precisar ser solicitado, garante o ministro Amado. O Governo português é um fiel aliado e obedece compulsivamente, adivinha, os desejos e os interesses desse potentado do Direito Democrático Internacional chamado China. Onde não só há pena de morte, como os familiares dos condenados têm ainda de pagar a bala da execução. Onde não há tribunais do Estado, nem sistema judicial independente e autónomo, mas onde a justiça é aplicada em julgamentos efectuados pela estrutura do Partido Comunista da China, por 'juizes' nomeados pelo partido-único. Onde não há liberdade de associação e expressão política. Onde não há liberdade de opinião. Onde não há liberdade de imprensa. Onde não há eleições livres."

(Do artigo de São José Almeida no Público de sábado passado, onde - no topo da página 5 - ficamos a saber que chanceler alemã, Angela Merkel, receberá o Dalai Lama a 23 de Setembro, em Berlim)

domingo, setembro 16, 2007

cidades com estátuas (II)

Onde os rios não têm nome, nem nascente nem foz (Amsterdão, 2007)

sexta-feira, setembro 14, 2007

pale goldenrod

Olhou o livro exposto na vitrine e reparou que a sua cor era a cor exacta. A cor certa para condizer com o título, com a escrita e com a muito provável intenção do autor (se às intenções dos autores se podem atribuir cores). O senso-comum cromático dizia-lhe de imediato (o senso comum cromático é, por natureza, imediato) tratar-se de um beje. De uma espécie de beje, meio pálido, depurado. Como se também pela cor se quisesse situar o tempo e colorir com tons precisos a personagem a que o livro se dedicava, já em segunda edição. Depurar o tempo, justificar um tempo. Com a reconhecida honestidade intelectual do autor (ou chamemos-lhe, sem desprimor, habilidade factual), era previsível que a escrita contivesse os requeridos rigores históricos, mesmo que selectivos, devidamente amadurecidos e aturados (porque os rigores históricos são, por natureza, amadurecidos e aturados). Mais tarde viria a saber que o nome técnico correspondia muito provavelmente a um "pale goldenrod", ouro pálido. E pareceu-lhe então nesse momento ser a cor ainda mais certeira, agora que relia o título (...antónio de oliveira salazar, o outro retrato...), imaginava o seu conteúdo e descortinava as prováveis intenções do autor. Era a cor certa para a forma seguramente ardilosa, mas nessa medida sabedora, com que se retrataria, no livro exposto na vitrine, um bom filho da puta (chamemos-lhe assim, um bom filho da puta).

quinta-feira, setembro 13, 2007

até quando?

Vamos continuar a assistir a inaugurações de edifícios públicos com aspersão de água benta, e participadas activamente por membros de governo, que às vezes até se persignam?

quarta-feira, setembro 12, 2007

máquinas mediáticas

Fátima Campos Ferreira falava, na abertura do Prós e Contras da segunda-feira passada, sobre a gigantesca máquina mediática que se montou a propósito do caso Maddie. E disse isto como se tal não pudesse ter rigorosamente nada a ver com ela e com o seu programa. Mas bastou deixar passar uns minutos para, nas perguntas dirigidas ao Director-Geral da Polícia Judiciária, se ouvir da sua própria boca: "Para quando um desfecho deste caso?"; "Está desgostoso com o caminho que a investigação está a levar?". E tudo isto enquanto, no rodapé do ecran, se podia ler: "Em debate: Caso Maddie - Quem são os Culpados?".
Não vi o programa até ao fim, mas já me disseram que o melhor mesmo foi o momento em que um especialista espanhol, na plateia, através da análise das expressões faciais (como se sabe uma das mais infalíveis técnicas de perícia criminal), de Kate McCann, praticamente sentenciou a sua culpabilidade em directo (e numa máquina não mediática, claro).

terça-feira, setembro 11, 2007

santiago do chile

A 11 de Setembro de 1973, Augusto Pinochet protagoniza um golpe de Estado, com o apoio inicial dos Estados Unidos, contra o Governo de coligação de esquerda de Salvador Allende, democraticamente eleito. O exército bombardeou o palácio presidencial de La Moneda, onde se encontrava Allende que, após se dirigir à nação num discurso radiofónico, se suicida com uma bala na cabeça.

segunda-feira, setembro 10, 2007

obituários

Nas últimas semanas não é difícil encontrar, nas montras ou nos escaparates com as edições em maior destaque, os filmes de Ingmar Bergman ou de Antonioni, nem obras de Eduardo Prado Coelho ou biografias da Princesa Diana. Esta semana, os cd's de Pavarotti vão também ascender, seguramente, às secções nobres. Há alturas em que livrarias e discotecas parecem obituários a três dimensões.

domingo, setembro 09, 2007

cidades com estátuas (I)

Berlim (Agosto, 2007)

quinta-feira, setembro 06, 2007

educação com açucar

Em Julho foram os meninos-figurantes, contratados por uma agência de casting para a cerimónia de apresentação do Plano Tecnológico da Educação, no intuito de dar das escolas e dos alunos uma imagem assim mais "Morangos com Açucar", e evitar que uma horda de estudantes reais, ranhosos e insolentes, pudesse prejudicar a finesse do evento.
Agora, e ainda no âmbito das estratégias educativas em matéria de glucose, o Ministério da Educação decidiu convidar a Nestlé, a Danone, a Kellogg's e o Modelo Continente a financiar o Programa Media Smart, representado em Portugal pela Associação Portuguesa de Anunciantes.
Este programa é destinado a alunos do 1º Ciclo, e pretende que estes aprendam a descodificar a publicidade e as estratégias comerciais, com a ajuda destas empresas, "que mais milhões de euros gastam em publicidade destinada às crianças, [para] encharcar os miúdos com toneladas de açúcar". Optar pelo estabelecimento de parcerias, neste âmbito, com a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor ou com a Associação Portuguesa de Dietistas seria, obviamente, tão disparatado como colocar, na plateia da cerimónia do Plano Tecnológico, alunos de carne e osso.
Os próximos passos, em matéria de educação para o consumo, consistem em contratar com a Phillip Morris o desenvolvimento de conteúdos curriculares na área dos malefícios do tabagismo e, com uma qualquer associação nacional de proxenetas, a preparação de umas aulitas de educação sexual.

segunda-feira, setembro 03, 2007

tempos relativos

O futuro é sempre certo enquanto o passado permanece imprevisível
(Ditado russo da era soviética, a fazer fé no Público de 1 de Setembro)

domingo, setembro 02, 2007

crossing borders

Fotografias da exposição permanente no Checkpoint Charlie (Berlim)