sábado, setembro 22, 2007

animal farm 2007

"Portugal é o país-membro [da OCDE] com 'a maior selectividade no acesso ao ensino superior'. Em Portugal é determinante a influência que o facto de os pais serem licenciados tem no acesso dos filhos a um curso superior: 'Há uma sobreposição de filhos de licenciados no superior e estes jovens têm 3,2 mais probabilidades de tirar um curso do que seria normal'. Enquanto na Espanha, Irlanda e Finlândia, esse ratio é de 1,1, ou seja não influencia e há igualdade no acesso (...).
Estes dados mostram de uma forma crua e bruta a desigualdade que se vive na sociedade portuguesa (...) [e] vêm completar os indicadores que dizem que Portugal é o país com maior fosso entre pobres e ricos (...). Mas tão ou mais grave, em termos de desigualdade social, é o facto de este estudo [Education at a Glance 2007] demonstrar que há, por assim dizer, uma reprodução de classe em Portugal. Ou seja, a sociedade não permite igual acesso em igualdade de circunstâncias e com igualdade de oportunidades a todos os seus cidadãos, impedindo assim a mobilidade social que é própria das democracias (...).
Esta realidade é ainda mais chocante quando o discurso que se ouve do poder e dos partidos de poder em Portugal é um discurso cada vez mais elitista e ainda mais segregador (...), de ataque ao ensino público, como tem sido feito por alguns dirigentes político-partidários. Quando, face à barreira constitucional da privatização absoluta do ensino, surgem formas de privatização encapotada, como a ideia de que o Estado pague e delegue o ensino dos cidadãos a instituições privadas, através de mecanismos como, por exemplo, o cheque-ensino. Mas em que, claramente, é assumido que este financiamento é uma parcela do que as instituições privadas, de facto, cobrariam, abrindo campo a maior discriminação."

(Do artigo de São José Almeida no Público de hoje, um dos 365 dias do Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos)