terça-feira, julho 29, 2008

summertime

domingo, julho 27, 2008

administração lasciva

"VC- Dentro do fisco, o argumento é o de que essas críticas provêm dos grandes escritórios de advogados em Lisboa, por também estarem a ser 'vítimas', nomeadamente, das penhoras...
DA- Não tem nada que ver com as penhoras. Nunca estive contra as penhoras automáticas. Uma instituição ou qualquer cidadão cioso dos seus deveres nunca poderá estar contra a eficiência da Administração Fiscal. Uma administração lasciva, que não actue ou que seja inoperante, acaba por ser a pior coisa para o contribuinte cumpridor."

(Da entrevista do jornalista Vítor Costa ao presidente da Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas, Domingues Azevedo, no Público de 13 de Julho. Dádiva do Victor Ferreira, por email).

sexta-feira, julho 25, 2008

good fortune

Como vivem, músicos e bandas, uma digressão? Que impacto tem a sucessão de concertos, muitas vezes a milhares de quilómetros de distância e nem sempre separados por um dia de intervalo? Instala-se inevitavelmente a rotina? Perde-se o gozo de estar ali e converte-se tudo progressivamente numa empreitada, num contrato a cumprir? É claro que há quem goste de dar concertos e quem prefira não o fazer. E há os temperamentos de cada um, desde os mais dados a interagir com a assistência aos mais indiferentes ou tímidos.
Lou Reed não prima, em regra, nem pela simpatia nem por uma comunicação abundante e propriamente afável com o público. Mas no passado domingo, em Loulé, o homem até sorriu e - sobretudo - não deixou dúvidas de gostar do que estava a fazer, entregue por inteiro ao momento (uma versão renovada de Berlim), num fim-de-semana que fica decididamente para a história.

(Foto de Nuno Miguel Sousa, que voz amiga deu a conhecer, após várias buscas infrutíferas de uma imagem exactamente assim nos principais motores de busca da internet).

terça-feira, julho 22, 2008

a última ceia

Há um par de diferenças entre a última ceia e o concerto de Leonard Cohen do passado sábado. Ao contrário dos discípulos de Cohen, os apóstolos não sabiam antecipadamente tratar-se da última refeição em comum. E se os sucessivos regressos de Cohen ao palco, quando se pensava ter já terminado a cerimónia, forem uma espécie de parábola, talvez estas não sejam afinal as suas derradeiras aparições em público.
Mas a noite teve a plenitude que é própria a uma última ceia. À Última Ceia. Não se trata de um mero jantar, igual a tantos outros, mesmo com as melhores iguarias. Durante a celebração, numa consumação litúrgica feita de sagrado e profano, Cohen anunciou ao mundo a verdade sobre a vida e as coisas, que a filosofia e a religião desde há muito procuram. Está em The Tower of Song e é simples: turu na nana turu na na.

sexta-feira, julho 18, 2008

árgia

"O que torna Árgia diferente das outras cidades é que em vez de ar tem terra. As ruas estão completamente cobertas de terra, as salas cheias de argila até ao tecto, sobre as escadas assenta outra escada em negativo, por cima dos telhados das casas pairam camadas de terreno rochoso como céus com nuvens. Se os habitantes poderão andar pela cidade alargando os cunículos dos vermes e as fendas em que se insinuam as raízes, não o sabemos: a humidade qubra os corpos e deixa-lhes poucas forças; convém que fiquem quietos e deitados, de tão escura que é."

(Italo Calvino, As Cidades Invisíveis, 1990)

quarta-feira, julho 16, 2008

situacionismos

"Pergunto-me o que sentenciaria o situacionismo dos nossos dias na sociedade e na Igreja - igualmente cinzento, bem-comportado, obediente, razoável - se fosse apagada a data da carta de D. António, e se ela fosse apresentada como tendo sido expedida ontem. Como reagiria o situacionismo que domina por aí ao ler que «na situação presente, é quase fatal que o operariado veja, como vê, no Estado o aliado do patronato?». Como reagiriam os novos guardiães do pensamento único ao lerem que «se o equilíbrio financeiro é óptimo, nunca deve deixar de estar ao serviço do homem»? Que pena estabeleceriam os novos sacerdotes da passividade católica para o crime de escrever que «um financismo à outrance (…), invertido num economismo despótico (…), não podia deixar de resultar (…) em benefício dos grandes contra os pequenos e finalmente na opressão dos pobres»?"

(Da intervenção de José Manuel Pureza no Acto Cívico de Memória dos 50 anos da carta de D. António Ferreira Gomes a Salazar)

terça-feira, julho 15, 2008

hoje acordei ortográfico

(ouvido pela manhã, numa rua a despertar em sons, automóveis e pessoas)

o amor de julieta erro meu ■ o amor de julieta erro meu ■ igualzinho o meu e seu ■ igualzinho o meu e seu ■ o amor de julieta erro meu ■ o amor de julieta erro meu ■ igualzinho o meu e seu ■ igualzinho o meu e seu ■ o amor de julieta erro meu ■ o amor de julieta erro meu ■ igualzinho o meu e seu

sábado, julho 12, 2008

songs for the season

Caetano Veloso, Jokerman (Circuladô Vivo, 1992 - Bob Dylan, Infidels, 1983)

sexta-feira, julho 11, 2008

and now, for a completely different point of view

"Eu sempre desejei que houvesse uma lei que, respeitando os direitos dos dois, evitasse martírios. (...) Há rupturas afectivas que, enfim, nunca mais terão um reacender da fogueira. Para quê as pessoas estarem a martirizar-se? A Igreja devia dizer isto. (...) O estar a adensar uma forma prisional, um cárcere, eu acho isso horrível."

(Declarações de D. Januário Torgal Ferreira, no Público de 9 de Julho, sobre a Lei do Divórcio)

quinta-feira, julho 10, 2008

look at them, bloody protestants

(Monty Phyton, The Meaning of Life, 1983)

Quando interpelado relativamente à recente decisão da igreja anglicana sobre o acesso das mulheres ao sacerdócio, e quanto ao papel da mulher na igreja católica, Dom Jorge Ortiga recorre a uma espécie de teologia da negação, da vacuidade e da acusação. As suas afirmações (umas infundadas, outras intencionalmente esotéricas e incompreensíveis), fazem lembrar o sketch do casal de protestantes em O Sentido da Vida, na qual o marido se vangloria de não ter (como os católicos) restrições morais à compra e uso de preservativos (embora na prática essa vantagem moral se torne irrelevante, na medida em que - como os católicos - não os adquire nem lhes dá uso).

Dom Ortiga considera, quanto à possibilidade de ordenação de sacerdotes do sexo feminino, que “não existe uma vontade nesse sentido” por parte dos crentes (contrariando portanto o resultado de sondagens que vão exactamente no sentido oposto). Ou seja, afinal a Igreja até está mortinha por ordenar mulheres e apenas as retrógradas massas de fiéis são insensíveis a esse avanço civilizacional. Depois surge a argumentação transcendente, através de frases como: “o pensar da Igreja e do Papa é reconhecer a complementaridade dos ministérios”, não deixando Ortiga de concordar que “haverá um ou outro movimento feminista” a defender a causa. Apenas uma questão de feminismo, portanto. Para rematar, a auto-justificação com o adversário: “Mesmo no seio da comunidade anglicana, essa questão não é muito pacífica”.

"Wife: Have you got one?
Husband: Have I got one? Well, no. But I go down the road, anytime I want, and walk in the Harrisson, hold my head up high and say in a loud steady voice: Harry, I want you sell me a condom."

segunda-feira, julho 07, 2008

elegia

A melodia irrompe com a força primaveril de uma cascata, removendo o mais leve indício de poeira que pudesse distanciar o passado do presente. Mas faz-se ao mesmo tempo acompanhar por um fundo compassado e grave, que carrega a atmosfera com uma densidade fúnebre. A interpretação de "grândola, vila morena" a dois pianos (Mário Laginha e Bernardo Sassetti) impressiona pela forma como hesita, intencionalmente, entre o renascer e a elegia.

sábado, julho 05, 2008

amor de mãe

Depois de ouvir a segunda frase que a nortenha mãe dirigiu à filha de 8 anos, à entrada da praia ("Vai cagar na muralha..."), reconsiderou e convenceu-se que a primeira ("És mesmo parva!") tinha sido afinal o equivalente a um doce beijinho na testa.

quinta-feira, julho 03, 2008

crime, disse ela

"Com esta directiva, a União Europeia torna claro que a imigração clandestina é um crime em si e que os autores deste crime, os migrantes pobres que têm a ousadia de vir meter o pé na porta para tentar trabalhar na Europa, devem ser punidos com dureza e sem merecer as garantias jurídicas que se reservam nos estados de direito para os seus cidadãos.
A directiva define o ponto de vista oficial da União Europeia perante aqueles que tentam fugir à fome e à guerra nos seus países e tentam garantir um futuro com um mínimo de bem-estar para os seus filhos. A mensagem é clara: desandem! E lança-lhes os cães às canelas para que não voltem tão cedo.
(...) O sem-papéis é a unperson da UE. Em 1984 apagavam-se os registos dos "desaparecidos" para que deixassem de existir e até de ter existido. O sem-papéis é sem registo por definição. Para a União Europeia, nunca existiu."

(Do artigo de Vítor Malheiros, no Público de 2 de Julho)

terça-feira, julho 01, 2008

songs for the season

Love & Rockets, If there's a heaven above (Seventh Dream of Teenage Heaven, 1985)