segunda-feira, fevereiro 23, 2009
domingo, fevereiro 22, 2009
mudar a mudança
"Há quem ache - são os conservadores de direita, mas também de esquerda - que se deve resistir à mudança. Há também quem ache - na “terceira via” do centro-esquerda, como no centro-direita - que temos de nos limitar a “gerir” a mudança e adaptar-nos a ela. Há ainda a posição bizarra, mas partilhada à esquerda e à direita com resultados muito opostos, de quem acha que nós não temos parte nesta história: de um lado estão convencidos que o “mercado” é tão eficiente que devemos deixar tudo a seu cargo; do outro lado estão ainda à espera que as “contradições do capitalismo” e os “limites do sistema” nos resolvam os problemas por nós. Não concordo com nenhuma destas posições atrás descritas (...) À esquerda, “mudar a mudança” quer também dizer que o discurso “alternativo” não pode ser sempre igual nem estar reduzido às mesmas fórmulas se, em vez de ficar à margem, quisermos aproveitar as energias da mudança para a redirigir no sentido da justiça social e dos nossos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade."
(Do artigo de Rui Tavares, no Público de hoje)
(Do artigo de Rui Tavares, no Público de hoje)
quarta-feira, fevereiro 18, 2009
dignidade
"Ser uma pessoa não é ser apenas um corpo, nem corresponder a um estereótipo de pessoa, nem ser uma qualquer pessoa (...). A dignidade da pessoa humana provém da sua consciência e da sua liberdade, do seu livre arbítrio. Quando a consciência e o livre arbítrio desaparecem, há algo que continua a merecer tratamento digno. Essa dignidade residual é o direito à morte digna."
(Do artigo de José Vítor Malheiros, no Público de ontem)
(Do artigo de José Vítor Malheiros, no Público de ontem)
terça-feira, fevereiro 17, 2009
segunda-feira, fevereiro 16, 2009
histórias bem contadas
Para que pudesse existir uma mesma lógica de raciocínio entre o episódio do estudo encomendado pelo Ministério da Educação (e apresentado como sendo da OCDE) e a história do parecer encomendado por professores a Garcia Pereira (sobre a inconstitucionalidade do modelo de avaliação de desempenho docente), esta última teria que se ter passado de outro modo.
Para haver semelhança, os professores encomendariam o parecer a um grupo de advogados e viriam depois dizer que se tratava de um parecer de Garcia Pereira (ou, recuando, que o parecer utilizava as "metodologias" seguidas por Garcia Pereira - como fez o ME, na tentativa de disfarçar a marosca).
É ainda curioso que no caso do parecer de Garcia Pereira se sublinhe o facto de se tratar de um parecer (o que corresponde inteiramente à verdade). Mas já no caso da OCDE tratar-se-ia (caso esta organização fosse efectivamente a autora do estudo) de uma espécie de palavra divina, imparcial e inquestionável (jamais um parecer, portanto). Estranha necessidade esta, a do ME, em colar com cuspo etiquetas de suposta qualidade aos seus produtos. Terão afinal dúvidas quanto ao seu mérito intrínseco?
Para haver semelhança, os professores encomendariam o parecer a um grupo de advogados e viriam depois dizer que se tratava de um parecer de Garcia Pereira (ou, recuando, que o parecer utilizava as "metodologias" seguidas por Garcia Pereira - como fez o ME, na tentativa de disfarçar a marosca).
É ainda curioso que no caso do parecer de Garcia Pereira se sublinhe o facto de se tratar de um parecer (o que corresponde inteiramente à verdade). Mas já no caso da OCDE tratar-se-ia (caso esta organização fosse efectivamente a autora do estudo) de uma espécie de palavra divina, imparcial e inquestionável (jamais um parecer, portanto). Estranha necessidade esta, a do ME, em colar com cuspo etiquetas de suposta qualidade aos seus produtos. Terão afinal dúvidas quanto ao seu mérito intrínseco?
domingo, fevereiro 15, 2009
sábado, fevereiro 14, 2009
pigs (three different ones)
Lembrou-se da história dos três porquinhos, talvez devido à expressão "porco capitalista". Ocorreu-lhe pensar que apenas um deles se tinha verdadeiramente dedicado a um investimento sólido e produtivo (tendo em conta os objectivos a atingir). Os outros ficaram-se pelas soluções fáceis e voláteis (face ao que os esperava).
Um capitalista que produz e dois rentistas, portanto, para mostrar que o capital é uma coisa complexa, pouco atreito a leituras simplistas. Sobretudo um dos porquinhos (o da palha), podia simbolizar na perfeição o capital especulativo, a vertigem evaporante dos mercados bolsistas. Mas ambos, na verdade, acabariam na história por se socorrer junto do terceiro.
Na história, porque na realidade seriam todos os animais a ter que arcar (a mando do leão que se encontrava na altura a governar) com os prejuízos da sua ambição leviana e irresponsabilidade, sem que do sucedido se tirassem sequer as devidas ilacções.
Um capitalista que produz e dois rentistas, portanto, para mostrar que o capital é uma coisa complexa, pouco atreito a leituras simplistas. Sobretudo um dos porquinhos (o da palha), podia simbolizar na perfeição o capital especulativo, a vertigem evaporante dos mercados bolsistas. Mas ambos, na verdade, acabariam na história por se socorrer junto do terceiro.
Na história, porque na realidade seriam todos os animais a ter que arcar (a mando do leão que se encontrava na altura a governar) com os prejuízos da sua ambição leviana e irresponsabilidade, sem que do sucedido se tirassem sequer as devidas ilacções.
sexta-feira, fevereiro 13, 2009
o absurdo e a cidade
Faziam bem, a Câmara Municipal de Coimbra e o Governo, em comemorar os 200 anos do nascimento de Charles Darwin mostrando que os erros fazem parte da evolução e que a inteligência serve para os saber reconhecer e corrigir. Mas faziam bem sobretudo para demonstrar que não partem de um conceito grunho de cidade, nem de noções de ocupação humana do espaço e de desenvolvimento da idade da pedra.
Embora pareça, pois - de forma inacreditável - a autarquia de Coimbra e o governo da nação preparam-se para sulcar uma zona verde singular (a que se chega em trinta minutos a pé desde o centro histórico da cidade), com o alcatrão e betão de uma via rápida a construir (e que supostamente serviria para afastar o tráfego da urbe). Trata-se comprovadamente de uma opção desnecessária, irracional, irresponsável e incompentente, existindo evidentes soluções alternativas, que fazem todo o sentido.
É isto que está em causa com o Plano Rodoviário de Coimbra, que prevê o atravessamento da Mata do Choupal pelo IC2. É por isto que um grupo de cidadãos se organizou em plataforma cívica, promovendo uma petição e a realização de um cordão humano, dia 15 de Fevereiro às 11 horas.
Embora pareça, pois - de forma inacreditável - a autarquia de Coimbra e o governo da nação preparam-se para sulcar uma zona verde singular (a que se chega em trinta minutos a pé desde o centro histórico da cidade), com o alcatrão e betão de uma via rápida a construir (e que supostamente serviria para afastar o tráfego da urbe). Trata-se comprovadamente de uma opção desnecessária, irracional, irresponsável e incompentente, existindo evidentes soluções alternativas, que fazem todo o sentido.
É isto que está em causa com o Plano Rodoviário de Coimbra, que prevê o atravessamento da Mata do Choupal pelo IC2. É por isto que um grupo de cidadãos se organizou em plataforma cívica, promovendo uma petição e a realização de um cordão humano, dia 15 de Fevereiro às 11 horas.
quinta-feira, fevereiro 12, 2009
clandestino
Há pesquisas no google que chegam aqui, através de frases como "passos do aborto", "passos a seguir para desencadear aborto" ou "passos para abortar em casa". A maior parte são feitas a partir de lugares onde o aborto é ainda crime e, por isso, clandestino.
quarta-feira, fevereiro 11, 2009
filmes do mês: janeiro
Janeiro candidata dois filmes a melhores do ano (sim, em 2009 o meu balanço vai ser cuidado e metódico). Waltz with Bashir, de Ari Folman, documentário animado sobre as estranhas trajectórias da memória e do esquecimento perante as insanidades da guerra. Vicky Cristina Barcelona, de Woddy Allen, onde a dissecação dos mistérios das relações humanas se faz pela mão de uma história leve e simples.
terça-feira, fevereiro 10, 2009
agrafo
"O agrafo é aquilo que se usa quando se quer juntar várias folhas de tal forma que fiquem seguras, mas legíveis. Geralmente, é de metal (aço, níquel, cobre), mas nada, para além das evidentes razões de utilização, impede que seja de outro material qualquer. Por essas mesmas razões, o agrafo tem que ser pequeno ■ As folhas agrupadas podem, cada uma delas, ter que ver com alguma coisa, ou não. Podem, todas elas, ter que ver com a mesma coisa, ou não. O conteúdo das folhas é irrelevante: pode mesmo não existir. O agrafo está-se nas tintas. Está lá para as segurar para que, por alguma razão que ele próprio desconhece, não se percam umas das outras ■ No entanto, e embora legíveis e seguras, as folhas continuam a ser fáceis de desagrupar, se tal for o pretendido. O preço a pagar são apenas danos menores, mas incontornáveis, porque o agrafo, apesar do seu tamanho, não tem sentimentos de viagem, daqueles pequeninos para caberem na mala: o agrafo não tem sentimentos ■ O agrafo não revela e não faz juízos de valor e, portanto, é de confiança. Um relatório, um talão de garantia ao qual apenas um recibo dá sentido ou um dedo com o azar de pertencer a uma mão descuidada, para o agrafo é tudo igualmente sigiloso e dependente de quem esteja para se responsabilizar. O agrafo não se impressiona com sangue ■ O agrafo é anónimo. Vem colado a outros, dentro de uma caixa insignificante, cheia com mais e mais agrafos, todos iguais a ele. Ninguém se lembra dele enquanto indivíduo único, autónomo e com uma identidade própria, mas esta indiferença não é uma injustiça porque o agrafo não é um indivíduo único, autónomo e com uma identidade própria ■ O agrafo não desafia a consciência. É descartável, tão pequeno e insignificante que ninguém se lembra que polui, embora seja difícil de biodegradar. Por isso, deita-se fora em qualquer sítio sem culpa. O agrafo, como sempre, não se rala, porque, embora não o saiba, ser indispensável mas estar condenado é aquilo para que nasceu ■ O agrafo não sabe nada, mas, ainda que soubesse, continuaria a não fazer ideia da sorte que tem"
(No sexto aniversário do Agrafo)
(No sexto aniversário do Agrafo)
segunda-feira, fevereiro 09, 2009
domingo, fevereiro 08, 2009
quinta-feira, fevereiro 05, 2009
terça-feira, fevereiro 03, 2009
e de os céus estarem azuis
"Com a eleição era inevitável que a guerra acontecesse. Começou quando começou por causa dos rockets, das eleições, de serem os últimos dias de Bush, de ser época de festas, e de os céus estarem azuis, tornando fácil aos aviões voar. Era inevitável. Não nos levou a lado algum. (...) E a coisa alarmante é o pouco que os israelitas se estão a importar com a destruição de Gaza. (...) As pessoas, naturalmente, já não querem saber, e como não sabem é mais fácil justificarem os acontecimentos. (...) A maior parte dos israelitas tende a pensar que agimos em autodefesa. Os israelitas têm muita vontade de acreditar que não violamos os direitos humanos e têm vontade de acreditar que os palestinianos puseram rockets naquelas escolas e casas que foram destruídas. Não entendem, claro, que isso é uma ficção."
(Da entrevista de Alexandra Lucas Coelho a Tom Segev, considerado um dos mais relevantes historiadores israelitas, no Público de hoje)
(Da entrevista de Alexandra Lucas Coelho a Tom Segev, considerado um dos mais relevantes historiadores israelitas, no Público de hoje)