sexta-feira, agosto 31, 2007

na pele do outro

Observo, imagino, fantasio. Meto-me na pele de outras pessoas. Não estou a falar de estilo, de técnicas, de temas ou parábolas; os exagetas sabem disso muito mais do que eu. O que quero compartilhar convosco é algum prazer da minha experiência de contar histórias com coragem, contar-vos de onde provém a urgência real de contar histórias, e como se vive, inclusivamente, face ao tempo, ao sofrimento, ao preconceito, à tragédia, à perda e à derrota. E como esta urgência de contar histórias é tão antiga. Creio que ela existe em todo o ser humano, não só nos escritores e romancistas: a necessidade de contar uma história, de imaginar o outro é, afinal, não só uma experiência ética e uma grande prova de humildade, não só uma boa directriz política, mas também, ao fim ao cabo - que a enfermeira do meu colégio não saiba disto -, um grande prazer.

Sem ter combinado com o Pedro citar, no mesmo dia, Amos Oz (Contra o Fanatismo, 2002).

quarta-feira, agosto 15, 2007

há festa na aldeia

"Jour de Fête", de Jaques Tati (França, 1948)
"Reina a calma em Sainte-Sévère quando chegam as caravanas de um grupo de forasteiros. A aldeia encontra-se enfeitada com flores e bandeiras. A esplanada do café está pronta a acolher um grande baile popular, o barbeiro e a costureira trabalham como nunca. O carrocel, a lotaria, o cinema ambulante, a barraca de tiros e outros jogos estão montados. Desejoso de receber os visitantes recém-chegados, o carteiro François propõe-se guiá-los, mas acaba por só provocar catástrofes. No momento em que os forasteiros estão de partida, o carteiro, perante uma assistência atónita, decide imitar os americanos como no documentário apresentado na véspera no cinema. A vida quotidiana pontuada pelas estações do ano retoma o seu curso na aldeia de Sainte-Sévère, onde o tempo parece agora suspenso e belo..."

terça-feira, agosto 14, 2007

em nome da consciência (IV)

A Amnistia Internacional (AI) deverá esta semana, finalmente, assumir de forma explícita o seu apoio no recurso ao aborto em casos de violação, depois de em Abril passado o seu conselho executivo se ter pronunciado nesse sentido. Esta é uma decisão que apenas peca por tardia, sendo ao mesmo tempo evidente que a AI mantém ainda muitas reservas quanto ao reconhecimento pleno do aborto como uma questão de consciência, limitando-se portanto a invocar a sua legitimidade jurídica apenas nos casos de mulheres vítimas de violação.
Como seria de esperar, e dado que a AI é uma das mais importantes e respeitadas organizações internacionais de defesa de direitos humanos, a reacção do Vaticano não tardou, tendo apelado em Junho deste ano (através do Cardeal Renato Martino), ao boicote do movimento por parte de todos os católicos do mundo. A mesma Igreja Católica que, no final do século XX, legitimava ainda a pena de morte, até não ser mais possível, tacitamente, sustentar esse posicionamento face às opiniões públicas e à pressão de organizações como a Amnistia Internacional.

Entre nós, o inenarrável bispo auxiliar de Lisboa, Carlos Azeredo, justifica esta posição da Igreja sobre o direito ao aborto, em caso de violação, afirmando que "os direitos da criança e do bebé são iguais aos de qualquer outra pessoa". Criança? Bebé? Voltamos à mesma tentativa torpe de convencer que um feto é um bebé, uma criança ou mesmo uma pessoa? Diga lá, mas agora a sério, senhor bispo: acha mesmo que uma mulher agredida, sexualmente violentada, deve ser forçada a ser mãe e prosseguir uma gravidez que não desejou?

segunda-feira, agosto 13, 2007

number one...

sexta-feira, agosto 10, 2007

meter as mãos na massa

quinta-feira, agosto 09, 2007

falar

Devia ser apenas sugestão do ambiente de intimidação esparsa que se sentia, ou se dizia existir, um pouco por todo o lado. Mas naquele momento, em pleno metro, pareceu-lhe ouvir com toda a nitidez a voz metálica e feminina dos altifalantes dizer: "Informamos os nossos clientes que é proibído falar em toda a rede do metro".

terça-feira, agosto 07, 2007

that trick is no longer allowed

A fazer fé no Público de hoje (topo da página 13), "o governo chinês emitiu um decreto proibindo o Dalai Lama de reencarnar. 'O chamado Buda vivo reencarnado é ilegal e inválido sem a aprovação governamental', afirma o texto, assinado pela Administração para os Assuntos Religiosos."

segunda-feira, agosto 06, 2007

vida

Pe. Francisco: Uma liberdade que elimina a vida não é liberdade.
Rámon: E uma vida que elimina a liberdade também não é vida.
(Mar Adentro, de Alejandro Amenábar, 2004)

domingo, agosto 05, 2007

cabeças tayloristas

É difícil não concordar com praticamente tudo o que é dito aqui.

sábado, agosto 04, 2007

news for the season

Títulos de notícias no Público de hoje:
"Sofrimento psicológico afecta mais de um em cada quatro portugueses"; "Envelhecimento da população acentuou-se em 2006"; "Só 20 por cento dos trabalhadores da construção civil têm um vínculo estável"; "Quase 40 por cento dos idosos em Portugal já perderam todos os dentes"; "Família acusa Hospital de Bragança de negligência"; "Casais não usam contraceptivos"; "Mais pessoas a beber álcool"; "Piloto de aerotanque morre durante combate a incêndio em Torres Novas"; "Cheias espalham a catástrofe no Sul da Ásia"; "Bush convoca para Setembro a conferência sobre o clima"; "Aliados atingem civis em tanque contra taliban"; "Pugilistas cubanos que desertaram foram presos"; "Ondas de calor tornaram-se duas vezes mais frequentes na Europa nos últimos 100 anos"; "Investigadores portugueses querem falar com máquinas".
.....
Já ia voltar atrás, pensando que chegara o fim do mundo, ou que apenas o simpático senhor do quiosque afinal me tinha servido o Correio da Manhã ou o 24 Horas (que agora assume na edição electrónica, neste tempo pós-Maddie, o nome pomposo de "24 Horas Portuguese Daily Newspaper"). Foi quando dei com a crónica semanal do Pedro Mexia, de manifesto interesse mesmo para pessoas que (como eu), honestamente não conhecem Bergman nem Antonioni.

quinta-feira, agosto 02, 2007

thanks given day

Entre as muitas mensagens que chegam ao departamento spam do email, há dias encontrei uma que dizia: "bless yourself with a huge dick".

quarta-feira, agosto 01, 2007

geografias políticas

Há pouco mais de um ano, foi apresentado aos meios de comunicação social espanhóis um documento que procura chamar à atenção da sociedade em geral, e dos responsáveis políticos em particular, para a necessidade de reconduzir o actual modelo de crescimento urbano.
Divulgado recentemente por ocasião da Festa da Geografia, realizada em Mirandela, o Manifesto por uma nova Cultura do Território foi promovido por um grupo de profissionais e professores das áreas do urbanismo, geografia, ciências naturais, engenharia e economia, e poderia muito bem ser assumido como um manifesto ibérico, dada a sua absoluta pertinência para o caso português.