sábado, julho 26, 2003

simpatias

" ■ Não cortes as unhas nos dias ímpares da semana, enfraquece a tua natureza e o sistema nervosoNunca comas pés de galo ou de frango, atrasam-te a vidaNão deves comer o coração de um animal, deixa-te com uma doença e torna-te inseguroNunca saias da cama pelo pé esquerdoNunca acendas uma vela para as almas que vivem em tua casa, mas apenas para os anjos ou espíritos leves. Para os santos podes acender velas porque não faz mal algum. Nunca um número par de velas - sempre um número ímparColoca um copo de água ao pé da vela para estabelecer um equilíbrio entre os quatro elementos: fogo, água, terra e arNunca comas enquanto olhas para o espelho. Partir um espelho é sinal de problemas causados pelo dinheiroNunca varras a casa à noite, dá azarDeixar cair cafés antes do meio-dia é sinal de desgosto. Deixar cair café à tarde é sinal de alegria e de risoNunca comeces um emprego no dia de lua nova, o emprego não durará. Se queres que um emprego dure pouco, começa nesse diaSe vem a época das chuvas e não chove, manda as crianças ir para o centro da floresta durante nove dias seguidos. Diz-lhes que reguem as formigas-brancas. Depois disso as chuvas não tardarão ■ "
(Instruções para rituais, praticadas por comunidades de agricultores do Grande Sertão Veredas, Brasil, que exemplificam a fé sincrética, uma mistura de catolicismo e culto da terra).
('Dia di bai', Fazal Sheikh, Centro de Artes Visuais, Coimbra 2003).
Foto: Sebastião Salgado

quarta-feira, julho 23, 2003

outros nomes para a saudade

Por vezes as memórias afloram assim. Nítidas. Como se não fosse mais do que segundos o que as separa do momento em que o começam a ser.

segunda-feira, julho 14, 2003

closer

Aproximação densa e envolvente. Descoberta profunda e imperceptivelmente discreta. Mundo fechado e insondável. Frestas de inteligibilidade. Como se a palavra traduzisse a natureza ambígua dos universos que somos e em que nos movemos.
Sepulcro petrificado. Feixes de luz cinzenta que iluminam de modo esparso, mas intenso, toda a escuridão. Fazendo irromper a serenidade esmagadora e inerte de um Cristo morto e de uma Madalena ajoelhada. Rosto mergulhado no chão, para onde escorrem os cabelos em repouso.
Aconchego do desalento lúcido da mulher ajoelhada, que agradece o conforto tocando a mão pousada no seu ombro, coberto pela túnica. Olhar perdido na expressão do tal Cristo sem traços de vida nem divindade.
Densidade e leveza, mistério e conhecimento. Isolamento pétreo e a mais cálida das proximidades. Sintonia com os ecos que lembram o interior de claustros e catedrais em fins de tarde, quando a nostalgia da luz é vertida pelos vitrais.
Dito assim parece triste e desolador, mas é o âmago profundo e pleno das coisas que emerge. Closer.