segunda-feira, janeiro 31, 2011

as escolhas de cavaco

"Cavaco Silva prescindiu do vencimento atribuído ao PR e escolheu manter as reformas a que tem direito. Há algo de errado nisto. Mas o quê?" (José Medeiros Ferreira, Córtex Frontal)

Tem razão Medeiros Ferreira, isto faz comichão na cabeça. Será a sobreposição do homo economicus (stricto senso), ao homo politicus? A transcendência das escolhas simbólicas e coerentes ultrapassada pelo pragmatismo individualista? O merceeiro Aníbal (reformado) a impor-se ao presidente Cavaco (em exer-cício)?

(Em estéreo)

domingo, janeiro 30, 2011

da liberdade

"Tunísia, Egipto, Jordânia, Argélia, Iémene. O Médio-Oriente vai encontrando o seu caminho para a democracia apesar de Bush e do voluntarismo bélico do Ocidente fundamentalista. Bush queria fazer do Iraque um exemplo, e conseguiu: o exemplo de como não se faz. Nestes tempos interessantes, ganham especial pertinência as palavras de David Cooper [A Linguagem da Loucura, 1978]: «ninguém pode libertar outrem, porque a liberdade é o acto de a tomar.»

(Bruno Sena Martins, Arrastão)

sexta-feira, janeiro 28, 2011

divina comédia

Discussing the Divine Comedy with Dante (Dudu, Li Tiezi, and Zhang An, 2006). Cento e três rostos famosos. Fica a dúvida quanto à ausência de Cristo: não entra por falta de fé dos autores ou porque deuses não contam?

segunda-feira, janeiro 24, 2011

verdade e ilusão

"Ouvi há pouco Cavaco afirmar que tinha vencido a verdade. A verdade de Cavaco é o silêncio. No discurso de vitória, não só atacou todos os que ousaram escrutiná-lo, como se escusou a responder a qualquer questão que lhe fosse dirigida pelos jornalistas. Nesta campanha, Cavaco foi desmascarado na sua suposta imaculada existência. Hoje é claro que fez dinheiro à custa de amigos pelintras. Mas achou que estava acima da obrigação de esclarecer o que tinha - e tem - de ser esclare-cido. Cavaco nunca perdeu os tiques de pequeno ditador.
Cavaco afirmou hoje, magnânimo, que nunca vendeu ilusões. Só quem prefere esquecer os 10 anos de governo cavaquista pode deixar de recordar o discurso do 'pelotão da frente'. Dia sim dia não, o então primeiro-ministro dizia-nos que no espaço de uma década estaríamos entre os países mais desenvolvidos da UE. Isto num país pobre e sub-qualificado (e sê-lo-ia hoje ainda mais, se mantivéssemos as opções de educação do seu reinado), dominado por grupos económicos parasi-tários que cresceram à custa de privatizações a preço de saldo e das auto-estradas cavaquistas. O demagogo de todas as horas não perdeu o jeito.
Depois de um mandato marcado por aquelas relevantíssimas e esclarecedoras intervenções relacionadas com o Estatuto dos Açores, as escutas a Belém e o casamento homossexual, o homem continua a tentar convencer-nos que é um grande estadista. E já poucos duvidam que ele acredita no que diz. Estranho é que não seja o único.
O país não ficará mais arruinado com esta eleição, é certo. Mas este homem só deixa sossegado quem precisa muito de acreditar em qualquer figura plástica que lhes apareça no ecrán.
"

(Ricardo Paes Mamede, Ladrões de Bicicletas)

sábado, janeiro 22, 2011

vento que passa

sexta-feira, janeiro 21, 2011

don't make me say I told you so

(Gui Castro Felga, Oblogouavida)

quinta-feira, janeiro 20, 2011

a pergunta

"Acha que Cavaco Silva respeitou os seus deveres constitucionais no seguimento da conspiração lançada pelo Público em Agosto de 2009? Justifique a resposta"

(Via João Galamba, Jugular)

quarta-feira, janeiro 19, 2011

integridade

Disse Cavaco Silva, na primeira inter-venção do debate com Manuel Alegre: “Há aqui um ponto prévio, porque o doutor Manuel Alegre, durante pelo menos 50 vezes, me acusou de destruir o Estado social. E é uma afirmação falsa, sem qualquer fundamento. Eu tenho que demonstrar hoje, aqui, que ele andou a enganar os portugueses”. Mais tarde, abordado por uma mulher que se quei-xou de não ter dinheiro para alimentar o filho, o candidato recomendou: “vá a uma instituição de solidariedade que não seja do Estado". Em Aveiro, ao encontrar manifestantes que, à boleia da questão dos cortes nos contratos de associação, defendem o cheque-ensino, o ainda presidente considerou importan-te que «crianças, jovens, pais e professores venham para a rua para defender a sua escola» (palavras que nunca os estudantes do ensino público tiveram o "privilégio" de ouvir da boca de Cavaco).

O que mais "incomoda" em Cavaco Silva não é propriamente o seu entendi-mento acerca do Estado, da protecção social e dos serviços públicos (enten-dimento que é tão legítimo em democracia como o seu oposto). O que verdadei-ramente o desqualifica enquanto candidato à presidência da república, a par dos silêncios convenientes e das fugas ao debate democrático, é a mais des-pudorada falta de integridade para assumir ideologicamente – perante os eleitores – o que realmente pensa. Quem anda, afinal, a tentar enganar os portugueses?

(Postado originalmente no Alegro Pianissimo)

terça-feira, janeiro 18, 2011

motivo adicional

"Pressentindo a possibilidade de uma segunda volta, o candidato do PSD e do PP tem vindo a dramatizar crescentemente o tom da campanha. Uma estratégia que se tem desenvolvido em dois planos distintos mas convergentes. Em primeiro lugar, o recurso à vitimização, próprio de quem se julga desobrigado de qualquer tipo de exame público. Ficámos sem perceber porque Cavaco comprou acções ao preço que só Oliveira e Costa podia comprar. Ficámos a saber que Cavaco passa férias com os homens fortes do BPN, entre os quais Oliveira e Costa e Francisco Fantasia, numa casa da qual não se recorda onde e quando fez a escritura. A esse escrutínio de amizades nebulosas tecidas em contexto político Cavaco chama "ataques de vil baixeza". Felizmente, neste caso da Aldeia da Coelha, Cavaco Silva já afirmou que dia 23 de Janeiro lerá as notícias e dará explicações. Aí está um motivo adicional para o país querer um segunda volta."

(Miguel Cardina, Alegro Pianissimo)

domingo, janeiro 16, 2011

a demagogia do cheque-ensino

"Importa assinalar a forma leviana, dema-gógica e superficial com que tem sido discutida, entre nós, a proposta do cheque-ensino. De facto, se todos os alunos de uma localidade, munidos do respectivo vale entregue pelo Estado, pretendessem frequentar a melhor escola que têm ao seu dispor, como ficaria a tão aclamada "liber-dade de escolha"? Quem acabaria por es-colher quem? Não custa imaginar que, perante um aumento da procura superior à capacidade de oferta, as melhores escolas privadas (que pretendem legitimamente manter a sua reputação nos rankings) escolheriam os melhores alunos. Ao mesmo tempo que, com a transferência de fundos para o ensino privado, a pauperização e degradação das condições de financiamento e funcionamento das escolas da rede pública se veriam ainda mais agravadas, generalizando um sistema dual que hoje - apesar de todas as desigualdades económicas conhecidas - o sistema público tem, em certa medida, impedido."

(Do artigo de hoje, no Público)

sábado, janeiro 15, 2011

uma questão de rating

"«Costumo dizer que quem quiser ser mais honesto do que eu tem de nascer duas vezes». Uma frase que define Cavaco. Comprá-lo por aquilo que ele vale e vendê-lo pelo que ele pensa que vale deve dar mais do que 140% de lucro."

(Da crónica de Rui Tavares, que merece ser lida na íntegra)

quinta-feira, janeiro 13, 2011

insignificantes consequências

"Olhando agora para o desperdício de tempo e de oportunidades dos últimos anos, o Tratado de Lisboa aparece como uma boa ilustração dos equívocos em que se tem vivido. Vale a pena reler a abundância de declarações então feitas sobre o seu extraordinário significado, e compará-las com as suas insignificantes consequên-cias. Vale a pena rever as caríssimas encenações que então se multiplicaram para glorificar um acordo que repetidamente se apresentava como "histórico" para o futuro da Europa, e confrontar toda essa tagarelice com os impasses em dominó que, justamente desde então, têm bloqueado a União Europeia. E isto aconteceu muito simplesmente porque o Tratado de Lisboa passou completamente ao lado do grande problema da Europa, que era e continua a ser o do enorme desajuste entre as suas instituições e aquilo que hoje se exige de uma economia integrada."

(Manuel Maria Carrilho, via Vias de Facto)

terça-feira, janeiro 11, 2011

o bairro

Uma epidemia abateu-se sobre um bairro, ameaçando sobretudo as casas perifé-ricas, mais frágeis. Apesar de a vida do bairro ser gerida entre as famílias, se-gundo processos democráticos por todos estabelecidos, os moradores das casas do centro, mais poderosos, entenderam ordenar aos moradores da periferia o que deviam fazer para evitar (ou curar) a epidemia. Num claro abuso de poder face às regras vigentes, não se limitaram portanto a dizer que era preciso estancá-la, acrescentando como o deviam fazer. E a todo o momento lembravam os restantes moradores que o incumprimento das suas orientações clínicas poderia acarretar, em última instância, a expulsão da comunidade.
A dita epidemia consistia numa infecção, que consumia os glóbulos brancos das vítimas. O tratamento estipulado pelos moradores das casas do centro, em lugar de recomendar o reforço controlado dos níveis de leucócitos (e de promover a sua distribuição contratualizada pela comunidade), consistia estranhamente em proceder à sua extracção do organismo dos moradores infectados ou em risco de infecção. Segundo eles, uma sucessão de punções na medula haveria de afastar a doença, ou impedir o seu aparecimento perante os primeiros sinais de vulne-rabilidade.
Sucede que o organismo responsável pela epidemia não se comovia com o esforço clínico que era sucessivamente imposto às vítimas. Isso era estranho, e até contrário, à sua natureza. De facto, quanto mais débeis estas fossem ficando, com os tratamentos a que eram sujeitas, mais a epidemia podia livremente alastrar, obter os seus ganhos na batalha que travava com os moradores das periferias e, assim, demonstrar e exercer o seu poder.
Perante os fracassos sucessivos da terapêutica imposta pelos moradores do centro aos moradores da periferia, a culpa era constantemente assacada a estes últimos, por mais que cumprissem à risca as orientações clínicas estipuladas. Por vezes, logo após cada punção, os moradores do centro até mostravam a sua satisfação pelo facto de os moradores da periferia acatarem as suas instruções de forma tão obediente. Mas ao menor sinal de fracasso, a uma debilitação acrescida causada pelo tratamento, sucedia-se a repreensão e um novo programa de cura, ainda mais severo, que diminuía sem cessar o nível de glóbulos brancos disponíveis e a capacidade de os produzir.
O que se tornava mais estranho nesta história era o facto de os moradores do centro, perante toda a evidência acumulada, nunca terem aparentemente colo-cado a hipótese de o erro estar no tratamento estabelecido e sempre preferirem depositar a culpa nos moradores da periferia, por mais que estes o cumprissem com escrúpulo. Para uns, isso devia-se a uma obsessão com a terapêutica, de tal forma cega, que os impedia de constatar como a mesma era ineficaz e, até, contraproducente. Para outros, podia muito bem dar-se o caso de os moradores do centro do bairro verem na epidemia uma belíssima oportunidade para se livrarem dos moradores da periferia.

(Postado originalmente no Ladrões de Bicicletas)

sábado, janeiro 08, 2011

candura e confiança

"Verdade que 300 mil euros não são uma fortuna e que a excitação da época levava com naturalidade a excessos lamentáveis. Só que a alegada candura de Cavaco não o recomenda. Quem se envolveu - porque ele de perto ou de longe se envolveu - na trapalhada do BPN não é aparentemente criatura indicada para superintender, com o seu conselho e a sua prudência, a economia de Portugal inteiro. Quem nos garante que do assento etéreo a que tornará a subir não sairão opiniões ruinosas para o país? Quem nos garante que esse primoroso economista que tanto respeitávamos não se deixará enganar por um trafulha qualquer da Venezuela ou da Líbia? O dr. Cavaco pede confiança aos portugueses; e faz muito bem. Mas, com o caso BPN perdeu ele próprio a confiança dos portugueses."

(Vasco Pulido Valente, Público)

quarta-feira, janeiro 05, 2011

explique-se

"Precisamos de saber se o cidadão Cavaco Silva lucrou com um desses negócios que estão a ser pagos com o nosso sacrifício. Se não, assunto encerrado. Se sim, teremos de saber se tinha consciência disso. Se, com o extraordinário retorno que conseguiu, não desconfiou de nada, temos de passar a duvidar do seu suposto conhecimento do mundo das finanças. Se sabia o que estava a acontecer e resolveu ignorar e lucrar com este contrato tão vantajoso, então a coisa é grave."

(Daniel Oliveira, Arrastão)

terça-feira, janeiro 04, 2011

ladrões e bicicletas

As recentes declarações de Cavaco Silva sobre o BPN fazem lembrar um adolescente que, para distrair as atenções em relação aos amigos que espatifaram uma bicicleta (na qual também pedalou), acusa insistentemente o senhor da oficina pelo facto de este a não conseguir reparar.

(Em estéreo)

sábado, janeiro 01, 2011

uma imagem para 2011

John Maynard Keynes, a trabalhar no seu escritório em Londres (1940)