socialismo invertebrado
Num debate cristalino, ouviu-se Jorge Lacão dar voz, de uma forma invulgarmente explícita, ao modo como o governo equaciona a questão das funções do Estado: "à esquerda do Partido Socialista, estes partidos [PCP e BE] ainda não perceberam que há serviços económicos relevantes que podem perfeitamente ser desempenhados, com regras perfeitamente definidas, por empresas do sector privado". Uma afirmação do Ministro dos Assuntos Parlamentares, no contexto da discussão do plano de privatizações subjacente ao PEC(*), que revela que o governo pouco terá aprendido com as falhas e equívocos deste modelo (serviços mais caros, menos acessíveis e manutenção, quando não agravamento, dos encargos para o Estado). Mas que sugere também, e sobretudo, a rendição ideológica em matéria de provisão de bens públicos, tudo devendo portanto passar a submeter-se às necessidades de cada momento. O PS converte-se assim num merceeiro sem critério nem escrúpulo, de vistas limitadas, conjunturais, que se necessário tudo trata como mercadoria, a integrar na "dinâmica de mercado" (expressão que o ministro Lacão utilizou com um ar de profunda sapiência). Um socialismo sem cerne, maleável, invertebrado.
(*) Plano que inclui a TAP, os CTT, a EDP, a Galp, a REN e as seguradoras da CGD (em 2009, os lucros da EDP, Galp e REN perfazem quase 1.400M€).
(*) Plano que inclui a TAP, os CTT, a EDP, a Galp, a REN e as seguradoras da CGD (em 2009, os lucros da EDP, Galp e REN perfazem quase 1.400M€).
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