terça-feira, agosto 25, 2009

a solução natural

Falésia da Praia Maria Luisa (antes e durante a remoção do rochedo)
Foi estranho não ouvir ninguém lembrar que as formações rochosas que desenham uma parte muito significativa do litoral algarvio são um património raro. Foi estranho sentir que não houve sequer um momento de ponderação, ainda que breve, sobre o que fazer à parte sobrante do rochedo que ruíu. Um confronto mínimo, que fosse, dos valores em jogo. Uma discussão sobre as formas de conciliar a segurança das pessoas com a salvaguarda do património natural.
O relevo cársico é uma tipologia geomorfológica rara no mundo e, em termos comparativos, uma das mais vulneráveis à erosão. A sua formação não se repete, simplesmente, na escala de tempo da história humana. O que hoje temos, uma vez destruído (por erosão natural ou acção do homem), não se recupera, não se regenera nem se reproduz (imagine-se, por exemplo, o que seria a Praia da Rocha sem as magníficas formações que lhe dão identidade).
Não sei se era viável o cenário de cercar eficazmente a área de risco, impedindo o acesso de turistas e veraneantes (e vá lá que felizmente não se optou por começar a construir um longo muro de betão a recobrir toda a falésia). Apenas se estranha que a remoção da parte sobrante do rochedo fosse a solução imediata, óbvia e natural.
Num país normal, os avisos de "perigo" deveriam bastar para que qualquer pessoa se afastasse com segurança da sombra das falésias (sendo que é de facto muito difícil estimar o seu grau de iminência de queda). E pessoas responsáveis não diriam (como disse numa entrevista um veraneante encostado à sombra de uma falésia sinalizada, já após o acidente da Praia Maria Luisa) que a culpa era do Estado, que não o impedia fisicamente de se sentar na sombra tentadora, no areal junto ao mar.