não é nada com eles
Conta o Público de ontem a história de vida de um grupo de imigrantes romenos e tailandeses, mantidos numa casa sem mobília, no Alentejo, onde dormem no chão, em cartões, e são sujeitos a violência física, extorsão de dinheiro, fome e medo. Levantam-se todos os dias entre as 3h e as 4h da manhã, para trabalhar em explorações agrícolas localizadas a 50 ou 100 km de distância, regressando no final do dia. Ganham o equivalente ao salário mínimo nacional, trabalhando entre oito a doze horas por dia, muitas vezes somando domingos e feriados à jorna semanal. Descalços, sujos, esgotados e subnutridos, pediram restos das refeições dos clientes num café de Selmes, no concelho da Vidigueira. São contratados por agências de trabalho temporário, reconhecidas pelo Estado português e criadas por máfias que controlam redes ilegais de imigração.
A notícia fala da condição de vida desta gente, da estranheza e do medo dos habitantes de aldeias por onde passam. Do problema das máfias e dos seus métodos. Mas na sombra de tudo isto ficam os proprietários das explorações agrícolas que contactam estas empresas de trabalho temporário. Daqueles que, certamente, consideram nada ter que ver com estas vidas, com a indignidade e a exploração. Isso não é com eles. Eles limitam-se a pagar a alguém que lhes arranje mão-de-obra para o trabalho nos campos que possuem. A mesma cristalina indiferença e abjecta distância com que o latifundiário que aparece no início do documentário Torre Bela tece considerações sobre a conservadora e "natural" sociologia agrária das relações de trabalho, no Alentejo que antecede o 25 de Abril.
<< Home