existência (II)
Chegava a perguntar-se se existiria, por mais que os outros lhe dirigissem a palavra e lhes respondesse. Por mais que olhasse para o porta-chaves com o seu nome e uma morada escrita à mão, e que os recibos da água, luz e taxa de saneamento afiançavam ser sua. Por mais que desse conta dos seus próprios passos e que os seus gestos permitissem movimentos ou fossem até capazes de alcançar coisas e pessoas. Era evidente que existia, obviamente que sim. Existia pelo menos para os outros. Uma espécie de existência suficiente. Existia pelo menos desse modo, para que ninguém pudesse ter sinais de que talvez assim não fosse. Existia assim, para poder reflectir sobre a questão com a tranquilidade de saber que os outros não tinham sombra de desconfiança a esse respeito.
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