sexta-feira, janeiro 12, 2007

num país a 12 de fevereiro

No dia 12 de Fevereiro gostava de acordar num país diferente. Num país que não humilha, não julga nem faz pender sobre as mulheres que decidem abortar a ameaça da pena de prisão. Num país que respeita a consciência e a decisão individual e que não é insensível nem indiferente às condições em que se realizam hoje muitos abortos clandestinos. Num país que sabe que ninguém deixa de abortar pelo facto de o aborto ser considerado crime. E que tem consciência que as razões que conduzem a essa difícil opção não passam por aí e se colocam num plano muito mais íntimo e profundo que o da intimidação penal. Num país que finalmente reconhece que a criminalização só serve a lógica do castigo, nunca a da dissuasão nem da pretérita reabilitação. E que sabe que a decisão de abortar já comporta suficiente angústia, sofrimento e violência.
A 12 de Fevereiro, independentemente do resultado do referendo, o aborto não deixa de existir nem deixa de constituir um profundo drama pessoal e social. Não está em discussão o fim do aborto. Está em discussão um país que reconhece a todas as mulheres, independentemente do seu estatuto social e situação económica, a igualdade de acesso a condições clínicas dignas para interromper, antes das 10 semanas, uma gravidez não desejada. Está em discussão um país que quer ou não fechar os olhos, que quer ou não continuar a ser hipócrita e farisaico. Um país diferente, que não faz da clandestinidade o manto para não ver, para não querer ver nem enfrentar o problema. Um país que deixa de fingir que o aborto não existe entre nós.