quinta-feira, setembro 07, 2006

un dos tres se acabó el plazo

(António Berni, Manifestacion, 1934)
Não se devia considerar aceitável que, perante indícios suficientemente plausíveis de fraude eleitoral e uma estreitíssima margem de vantagem (234 mil votos num universo de cerca de 41 milhões eleitores votantes), o candidato vencedor num escrutínio democrático não seja o primeiro a exigir a recontagem integral dos votos.
Trata-se por um lado de uma questão de reconhecimento inequívoco de legitimidade (como pode alguém querer iniciar um mandato ferido à nascença por tamanhas dúvidas sobre o verdadeiro resultado eleitoral?). E trata-se também, e sobretudo, de uma questão de interiorização profunda da noção de democracia (como pode um democrata convicto querer ignorar a possibilidade de a sua vitória não corresponder à expressão real da vontade dos eleitores?).
Ao não se juntar a todos aqueles que reclamaram, por fundadas razões, a recontagem dos votos (quer os apoiantes de Manuel López Obrador quer todos os cidadãos mexicanos que se moveram pela simples exigência da verdade eleitoral), Felipe Caldéron - o novo presidente do México -, não só legitimou e reforçou todas as suspeições sobre a existência de fraude eleitoral como deixou estalar a fina película a que se resume a sua noção de democracia.