sexta-feira, agosto 18, 2006

subway

(Todd Williams, Subway)
Final urbano de uma tarde de verão. Seguiam na carruagem cerca de vinte pessoas, a maioria das quais no regresso de mais um dia de trabalho (está-lhes estampado no olhar, mesmo que os pensamentos estejam agora noutras paragens). De quantas delas se poderia dizer que estavam ou eram felizes, considerando a expressão no rosto? À primeira vista nenhuma. Circunspecção, preocupação, alheamento, indiferença. Olhares e rostos ausentes, quando não tensos, como se cada qual circulasse sozinho numa carruagem vazia.
Mas as dúvidas começaram a surgir num pequeno foco de gente, menos silencioso, agitado por uma conversa entre a mãe com o filho ao colo, acerca de qual dos dois era mais feio. Um assunto demasiado sério para o miúdo, que o impedia de perceber a ironia carinhosa da mãe. Em redor, algumas pessoas acompanhavam com discrição o enredo, atrevendo-se a esboçar um breve sorriso no ponto A ou no ponto B da conversa, ou a até a deixar instalar alguma luz de presença no olhar. Mas a maioria permanecia como se nada se passasse.
Era nestas alturas que lhe apetecia subitamente apregoar em voz alta a venda, a preços irrecusáveis, dos albatrozes fresquinhos que trazia empalhados na pasta de couro.