terça-feira, junho 08, 2010

vontade

"É fácil disparar sobre a ministra da Educação pela mais recente experiência do nosso ensino público: o salto automático para o 10.º ano dos alunos com mais de 15 anos repetentes do 8.º ano, desde que aprovados nos exames finais. (...) Para fugir às críticas, Isabel Alçada argumentou que a medida é apenas um «incentivo» para que estudantes relapsos reentrem no sistema, tornem a acreditar neles próprios e completem então o ensino básico. A ministra acabou por sintetizar a sua fé de maneira quase dramática: «Eu acredito que a vontade move o mundo". (...) A vontade de quem? A vontade dos estudantes, claro. A vontade dos tais estudantes que foram sistematicamente chumbando de ano, que não cumpriram as regras de avaliação, que não foram submetidos a qualquer ensino ou aprendizagem formal (aqui, do 9.º ano) mas que agora, por «incentivo» do ministério, podem finalmente passar de ano através de um regime de exame. Diz-lhes o sistema: é verdade que vocês tiveram várias oportunidades; não se saíram bem; não se aplicaram nem aprenderam. Mas não se preocupem, porque nós podemos aligeirar as nossas regras incentivando-vos para que acreditem na vossa «vontade»".

(Pedro Lomba no Público de hoje. Mais um grave sinal, dado pelo Ministério da Educação, sobre a "utilidade relativa" da escola. À política de encerramento estatístico de estabelecimentos, parece aliar-se o início de uma política de ensino público por correspondência).