terça-feira, maio 25, 2010

algés

Gosto bastante do bairro onde estou agora a viver. As casas e as ruas são muito simpáticas, tendo as primeiras uma altura agradavelmente moderada e as segundas um esquadrinhado ortogonal que lhes assenta bem. Há bastantes cafés e restaurantes, que se enfileiram de onde em onde no rés-do-chão dos edifícios. Há mercearias genuinamente tradicionais e retrosarias que quase diria já não existirem a Oeste de um meridiano imaginário que passa por Coimbra. Há talhos, barbearias, lojas de pronto-a-vestir, sapatarias, oficinas, lojas com as mais variadas ferramentas e materiais de construção, quiosques de jornais, consultórios, dentistas e peixarias. Nada falta ao que um bairro assim, que quer ser mundo dentro de mundos, deve ter.
É um bairro com um traço muito particular: tem imensos idosos que ainda não são velhos (ou, melhor dizendo, velhos que ainda não são idosos). Povoam os passeios durante os dias, sempre muito aperaltados, sempre às compras, sempre a vaguear pelas ruas. Daqui a uns anos certamente deixará de ser assim, pois a autonomia que hoje têm perder-se-á com o tempo e as gerações que se lhes seguem, aparentemente menos significativas em número no bairro, não terão nem o tempo nem as condições de reforma que suportam este life style.
Só há uma coisa que me inquieta e perturba bastante: a quantidade de senhoras idosas que ainda não são velhas (ou de senhoras velhas que ainda não são idosas, como prefirirem), parecidas com a Maria Cavaco Silva. Os mesmos penteados, os mesmos vestidos, os mesmos óculos de sol que enchem meia cara, as mesmas malinhas penduradas no braço, os mesmos saltos meio-altos. O mesmo estilo, enfim (e eu sei que compreendem). Às vezes fazem lembrar aqueles filmes de ficção científica com invasões de extra-terrestres, magotes de clones dispersos, que vão discretamente tomando conta das cidades.
De resto, gosto bastante do bairro onde estou agora a viver.