domingo, outubro 26, 2008

quarentenne

Caro Diario (Nanni Moretti, 1993)
"Mas que aconteceu estes anos todos? Digam-me vocês. Eu já não sei ■ Começam a branquear-te as têmporas ■ A pesar as derrotas ■ Uma série ininterrupta de derrotas ■ A nossa geração... Em que nos tornámos nós? ■ Tornámo-nos publicitários, arquitectos, corretores de bolsa, deputados, assessores, jornalistas. ■ Mudámos tanto, piorámos todos ■ Hoje somos todos cúmplices ■ Todos, como? Que mania de nos achar todos cúmplices... ■ Quando foi a última vez que fomos dar um passeio? ■ Nós agora só continuamos juntos por hábito ■ Tu tens vergonha de mim... Que dor de cabeça. Nem sequer os Optalidons são os mesmos ■ Lembras-te do tilintar acalmante dos antigos tubos? ■ Agora tudo mudou, está tudo verdadeiramente mudado ■ Sabes uma coisa António? Tu pioraste, sim; já não consegues sentir um sentimento autêntico ■ Estamos envelhecidos, azedos, desonestos no nosso trabalho ■ Gritámos coisas medonhas e violentas nas nossas manifestações ■ E vejam como nos tornámos todos tão feios ■ Vocês gritavam coisas medonhas e violentas e vocês tornaram-se feios. Eu cá gritava coisas certas e sou um esplêndido quarentão."