sábado, dezembro 01, 2007

cidades do avesso

"Vai-se então para os verdes sítios amanhecidos, abraçar as rochas com os lábios encostados ao musgo, cortando levemente os braços nas arestas pontiagudas. Vai-se sem um tempo na alma, pesado disso. E, apesar dos contornos e rebordos do que se pensa ver à distância, são apenas outras cidades viradas do avesso, tentando expor-se. Aqui não chegarão jamais, nem mesmo pelas suas longas estradas que vão dar aos lados todos dos homens; nunca tocaremos ou viveremos nelas. O eterno é um nó tão lindo que cega, ata a vida, a morte. E desatamo-lo; como se fosse a fita numa prenda. Os dedos depressa, mas devagar os olhos que vêem."

(Miguel Esteves Cardoso, Escrítica Pop, 2003)