segunda-feira, novembro 19, 2007

o argueiro e a trave

"E por que reparas tu no argueiro que está no olho
do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?
Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar
o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu?
Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então
cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.
Mateus 7.1-5
"Se a comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros precisam de se colocar ao ritmo do Vaticano II, não ficaria mal aos bispos lembrar ao Santo Padre e à Cúria Romana que, embora haja muitas igrejas locais que resistem à renovação, a fonte principal dessas oposições radica no próprio Vaticano. O grande "cisma", pai de muitas dificuldades na Igreja católica contemporânea, aconteceu sobretudo a partir da encíclica Humanae Vitae. A inteligência cristã da sexualidade ficou paralisada: quem concorda concorda; quem não concorda ou deixa a Igreja ou passa à categoria de não praticante. Um outro ponto, cada vez mais importante é o seguinte: não se quer discutir a necessidade que muitos sentem da celebração cristã do casamento dos divorciados. Convidá-los para a Eucaristia e proibi-los de comungar é como convidar alguém para jantar e proibi-lo de comer. (...) Outra questão é o estatuto dos ministérios ordenados. Ao não permitir a ordenação de homens casados nem de mulheres, o resultado é este: exalta-se cada vez mais a Eucaristia, mas há cada vez menos possibilidades de a celebrar. No seu discurso, o Papa, em vez de abrir o caminho, fugiu à questão da atribuição dos ministérios sacramentais com a nebulosa habitual de misturar os planos."

(Do artigo de Frei Bento Domingues, no Público de ontem).