sexta-feira, novembro 17, 2006

intermitência

Era o copo de água de que se lembrava quando tinha sede, para colocar na prateleira depois de saciada. Era o livro de poemas, prosas, metáforas e provérbios, que ficava no sítio certo da estante, para quando as dúvidas ou o desalento tivessem lugar. Era o pensamento espaçado e intermitente, suspenso entre as rotinas circulares dos dias. O interruptor, o fio do autoclismo, a luz do frigorífico, a corda do sino, o gesto de abrir a janela, o puxar do estore, a célula fotoeléctrica. O raio de sol que de quando em quando rompia as nuvens, para ficar depois no além da penumbra opaca, como se afinal nem existisse.