quarta-feira, novembro 08, 2006

boletim meteorológico

Olhava em frente, resignado mas firme. A inevitabilidade não lhe mergulhava apesar de tudo os olhos no chão. Nem que fosse pior, estava ali, viesse o que viesse ainda por diante.
- Há-de haver um sentido… Nada é por acaso, vais ver…
Não fazia naquele momento a mínima diferença. A resposta ao estímulo místico era dada com o olhar sem palavras a desviar-se para a janela, em jeito de recusa gentil da aspirina que há em pensar no desígnio insondável mas certeiro das coisas. Escrever direito por linhas tortas.
Chovia copiosamente. Continuava a chover copiosamente. A água escorria nos vidros amplos, sinuosa e livre, tanto quanto a janela lhe permitia. Havia gotas a estatelar-se ritmadamente no mármore do parapeito. Distinguiam-se, apesar do lastro de som deixado pelas rodas dos carros que passavam a espaços.
- É sempre uma aprendizagem, um aperfeiçoamento progressivo. Quem sabe não andamos em ciclos de existência até atingirmos o horizonte… Pode ser esse o sentido.
Sim, bem vistas as coisas está um belo e promissor dia de sol. Daqueles de Outono, dourados e cálidos. Há um céu azul que contrasta na perfeição com os tons luminosos dos prédios ao pôr-do-sol e o castanho das folhas graciosamente arrumadas ao longo do passeio. A natureza em renovação cíclica, quem sabe também ela na procura incessante de si mesma. Fez regressar o olhar ao rumo anterior:
- Tudo é único... Se eu acreditasse na reencarnação já me tinha suicidado várias vezes.