o messias
Ao lado da estatueta de bronze de São Cristóvão, do termómetro avariado de plástico e do terço em miniatura cheio de pó, estava o cartão com o nome: Messias. Entrou com os bons dias e com a indicação do destino, e Messias arranca de súbito, exactamente antes de dizer: "Caralhos os fodam!... Agora vão aumentar os parques, ladrões do caralho. Filhos da puta que só cá andam para roubar... Os gatunos!". Ainda pensou que fosse com ele, mas reparou então na emissão radiofónica que tinha inspirado aquela simpática saudação matinal do Messias: "Pergunto ao nosso ouvinte se concorda com o aumento dos parques de estacionamento em 30%". "Sim... Penso que as pessoas devem utilizar mais os transportes e assim talvez deixem os carros mais em casa...". "Foda-se!... E a este parece-lhe bem, caralho!", riposta, vermelho e gorduroso, o Messias.
Não teve desta vez a coragem do amigo, e recusou assim o explícito convite para um joguinho de xadrez ou um combate de boxe durante a viagem. Aliás, pelo aspecto da coisa a proposta cingir-se-ia seguramente ao boxe. O xadrez era, visivelmente, divertimento de meninos do coro para o Messias. E decidiu portanto, negar o convite desde logo, retirando da pasta um bloco para fazer as anotações que a viagem prometia, e dando assim a entender ao Messias que estava mais concentrado em aproveitar o tempo para trabalhar.
Na avenida que ladeia o rio, sobre o qual se dissipava a névoa da manhã, o trânsito ficou entretanto congestionado, devido às obras do Metro. “Eh fila do caralho!... Ainda tentei passar mas já não deu, foda-se!”. Uma senhora atravessa a passadeira. “E aquela filha da puta, não se mexe? Parece que tem os pés colados ao chão, caralho. Mexe-te foda-se!”.
Cedo ou tarde o Messias chegaria lá. Não demorou nem dois minutos. A propósito das obras e de outros considerandos, entra no cerne da questão: “No tempo do outro nada disto acontecia”. “Qual outro?”, perguntou, numa indisfarçável falsa ingenuidade. “O António, o Dr. Salazar”. “Ah”, limitou-se a responder com a máxima discrição, não fora mais conversa dar o sinal equívoco de que, afinal, não se importava de jogar uma partidinha.
Não teve desta vez a coragem do amigo, e recusou assim o explícito convite para um joguinho de xadrez ou um combate de boxe durante a viagem. Aliás, pelo aspecto da coisa a proposta cingir-se-ia seguramente ao boxe. O xadrez era, visivelmente, divertimento de meninos do coro para o Messias. E decidiu portanto, negar o convite desde logo, retirando da pasta um bloco para fazer as anotações que a viagem prometia, e dando assim a entender ao Messias que estava mais concentrado em aproveitar o tempo para trabalhar.
Na avenida que ladeia o rio, sobre o qual se dissipava a névoa da manhã, o trânsito ficou entretanto congestionado, devido às obras do Metro. “Eh fila do caralho!... Ainda tentei passar mas já não deu, foda-se!”. Uma senhora atravessa a passadeira. “E aquela filha da puta, não se mexe? Parece que tem os pés colados ao chão, caralho. Mexe-te foda-se!”.
Cedo ou tarde o Messias chegaria lá. Não demorou nem dois minutos. A propósito das obras e de outros considerandos, entra no cerne da questão: “No tempo do outro nada disto acontecia”. “Qual outro?”, perguntou, numa indisfarçável falsa ingenuidade. “O António, o Dr. Salazar”. “Ah”, limitou-se a responder com a máxima discrição, não fora mais conversa dar o sinal equívoco de que, afinal, não se importava de jogar uma partidinha.
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