segunda-feira, outubro 16, 2006

cinco sentidos

O primeiro impacto é literalmente atmosférico. O ar quente e palpável, denso de humidade, leva a considerar que seria impossível ficar a viver aqui. Depois entranha-se, torna-se familiar e respira connosco.
O segundo impacto chega com a paisagem, que lembra e confirma os fragmentos do puzzle de imagens mentais, mais ou menos eurocêntricos, que agora se juntam numa peça só, verdadeira e indivisível. O contraste é lapidar, talvez como nunca outrora. As marcas da destruição e da degradação, ainda bastante visíveis, convivem lado a lado com os sinais de renovação que brotam na cidade agitada de gente, vozes e trânsito.
Tudo isto não só se vê e sente como se cheira. Como se se pudesse ler tudo, as mesmas coisas, recorrendo de olhos fechados a uma outra linguagem. Do nauseabundo saneamento por vezes a céu aberto, ao aroma límpido e fresco dos espaços comuns do hotel, ou à vaga de maresia que o vento e a humidade trazem e que simultaneamente se mistura e distingue dos escapes de viaturas, indústrias e estaleiros. E, irrompendo de onde em onde, o aroma sincero dos temperos e da comida, umas vezes demasiado familiar e outras absolutamente novo e diferente. Para lembrar que se está no sul do mundo.