o esgoto
Tinha como certo, até há bem pouco tempo, que duas grandes conquistas da escola e do sistema educativo nos últimos vinte anos revelavam a assumpção, pelas gerações mais novas, dos valores do ambiente e dos direitos humanos. Não duvidando, neste sentido, que a causa ecológica está de boa saúde (como demonstra a campanha de sábado), tenho contudo dúvidas sobre os avanços da sociedade portuguesa em matéria de defesa dos direitos humanos. De facto, quando vejo o esgoto em que se pode transformar o espaço reservado, num blogue, ao comentários dos seus leitores (como sucedeu a propósito deste texto de Fernanda Câncio sobre a morte de Nuno Rodrigues, assassinado em fuga por uma bala da PSP), também eu sinto medo, muito medo. Sobretudo medo de que o país que se refugia nestas caixas de comentário, para exibir alarvemente a sua barbaridade e inconsciência, seja feito não apenas das gentes saudosas do tempo de Salazar, mas igualmente de cidadãos nascidos em democracia. Um país latente que jamais perceberá uma centelha que seja da lição que centenas de pessoas deram no funeral de Nuno Rodrigues, ao optar por conter a sua legítima revolta perante as circunstâncias da morte do jovem, num gesto que é incompreensível à luz da prevalecente "imagem negativa que as pessoas têm dos bairros".
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