a gente diagnostica, sr. doutor
À saída de um encontro com Cavaco Silva, em que defendeu a receita sempre única e sempre mágica do corte na despesa pública para evitar o descalabro da economia, ouviu-se João Salgueiro (que liderou a Associação Portuguesa de Bancos na última década) dizer à RTP: "Nós não temos que enganar as pessoas. Eu não gostaria, se tivesse uma doença grave, que o meu médico me enganasse. A primeira coisa é que me diga exactamente o que é que eu tenho. E eu acho que ainda não se está a fazer isso". Mas não é difícil dar uma ajudinha. O que nós temos, entre outras questões, são bancos com lucros muito lindos (os mais lindos de todos) que não só pagam menos impostos do que a generalidade das empresas, como sabem bem o que fazer para deles fugir (*). O que nós temos é um sistema bancário que, ao longo dos últimos anos, engendrou as estratégias mais ardilosas para vender dinheiro, muito dinheiro aparentemente fácil, que gerou a espiral de endividamento conhecida (endividamento das famílias, mas que é também endividamento, externo e privado, do país). O "cidadão ex-Presidente da APB" podia incluir estes dados no diagnóstico clínico ontem apresentado a Cavaco Silva? Podia, mas não era a mesma coisa.
(*) No primeiro semestre de 2009 o lucro dos quatro maiores bancos privados subiu 17,4%, tendo os impostos pagos diminuído 16,7% face ao período homólogo de 2008.
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