sexta-feira, janeiro 04, 2008

fuligem

"Agora não pode fumar lá dentro", dissera-lhe, como quem devolve o troco, a senhora do quiosque que ficava a cem metros do local de trabalho, no momento em que lhe servia o sg ventil.
Para além do sarcasmo miudinho, era o gozo indisfarçável da pequena ameaça, da possibilidade de denúncia que a lei lhe tinha colocado nas mãos desde o dia um. Como se, não podendo entrar no local de trabalho para o apanhar com a boca na botija, fosse suficiente, para efeitos criminais, a circunstância de ele lhe ter pedido um maço de cigarros a troco de dinheiro.
"Faz mal à saúde... É para seu bem", anuiu a zelosa senhora, no momento em que tudo à sua volta ficou subitamente a preto e branco, no ar a fuligem saída de um livro de Orwell e um recúo de mais de trinta anos no tempo.
"Ah, já me esquecia... Queria também uma licença de porte de isqueiro, se faz favor...".