quinta-feira, agosto 10, 2006

guerra, mentiras e media

(excertos do Editorial de José Manuel Fernandes de 4 de Agosto, no Público)

Depois do ‘massacre’ de Jenin – lembram-se? – uma grande revista europeia conseguiu um grande ‘furo’: entrevistou um velho que tinha perdido os nove filhos quando os tanques israelitas entraram nas ruas estreitas daquele povoado palestiniano. (…) Posteriores investigações jornalísticas revelaram que, afinal, os nove filhos do velho palestiniano estavam todos vivos. Mas a tal grande revista nunca publicou qualquer correcção.
Histórias semelhantes a esta repetem-se agora todos os dias. Ontem, por exemplo, confirmou-se que em Qana morreram menos de metade dos que se anunciara terem sido vítimas de outro ‘massacre’ israelita, só que a notícia não teve o mesmo relevo porque recolocar o drama numa dimensão menos trágica não tem idêntica capacidade de suscitar emoções. Assim se explica como também mereceu pouco destaque o ter-se sabido que, pouco antes do ataque que vitimou quatro soldados das Nações Unidas, um destes tinha enviado um e-mail a um seu superior a dizer que estavam a ser utilizados como ‘escudos humanos’ pelo Hezbollah. O que teve relevo foram antes as declarações do secretário-geral das Nações Unidas sobre aquilo que designou como ‘bombardeamento intencional’.
O principal desiquilíbrio da actual guerra não é militar: é não se entender que há verdades mentirosas.

Sobre a interpretação esguia, livre e abusiva dos factos relativos ao ataque que vitimou quatro soldados das Nações Unidas, o Daniel Oliveira já fez os esclarecimentos que se impunham.
E sobre a indignação recente de José Manuel Fernandes acerca das mentiras, do papel dos mass media e da guerra, estaremos também conversados, bastando lembrar a fé do editorialista na existência de armas de destruição massiva no Iraque. Convicção sobre a qual, que eu me lembre, "nunca publicou qualquer correcção". Talvez porque "o drama numa dimensão menos trágica não tem idêntica capacidade de suscitar emoções".