terça-feira, agosto 12, 2003

aeroporto drummond de andrade

Quando eu me encontrava presoNa cela de uma cadeiaFoi que eu vi pela primeira vezAs tais fotografiasEm que apareces inteiraPorém lá não estavas nuaE sim coberta de nuvensTerra, terraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria.
Ninguém supõe a morenaDentro da estrela azuladaNa vertigem do cinemaManda um abraço para ti, pequeninaComo se eu fosse o saudoso poetaE fosses a ParaíbaTerra, terraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria.
Eu estou apaixonado por uma menina terraSigno de elemento terraDo mar se diz terra à vistaTerra para o pé, firmezaTerra para a mão, caríciaOutros astros lhe são guiaTerra, terraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria.
Eu sou um leão de fogoSem ti me consumiriaA mim mesmo eternamenteE de nada valeriaAcontecer de eu ser genteE gente é outra alegriaDiferente das estrelasTerra, terraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria.
De onde nem tempo nem espaçoQue a força mande coragemPra gente te dar carinhoDurante toda a viagemQue realizas no nadaAtravés do qual carregasO nome da tua carneTerra, terraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria.
Nas sacadas dos sobradosNa velha São SalvadorHá lembranças de donzelasDo tempo do imperadorTudo, tudo na BahiaFaz a gente querer bemA Bahia tem um jeitoTerra, terraPor mais distanteO errante naveganteQuem jamais te esqueceria.
(Caetano Veloso, 'Terra', 1998)