cidade dos dois mundos
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O território banhado pelo mar é pontuado por morros que emergem, abrupta e imponentemente, de onde em onde. Nas áreas mais planas, e com altitudes próximas das do nível do mar, sente-se que a cidade planeada e organizada se foi formando, como se línguas de lava se derramassem, preenchendo todos os interstícios disponíveis. É a paisagem normal de uma cidade do Novo Mundo, que lembra neste sentido a Cidade do México. Ruas desenhadas a régua e esquadro, as vidas a fervilhar de mil formas ao longo dos passeios e no frenesim caótico dos carros.
Depois fica a outra cidade, nitidamente diferente. É a cidade que trepa pelos morros acima, quase até ao topo, deixando apenas uma mancha verde de florestação, ou então áreas cinzentas, quando a encosta é demasiado íngreme, a descoberto. Esta é a cidade das imensas favelas, em tons de tijolo ou betão. Casas minúsculas e desordenadas, a maioria sem telhado, que se encavalitam nos declives vertiginosos. Há imagens impressionantes deste contraste. Sobretudo quando, ao virar de uma esquina, se depara com uma rua ladeada de prédios, ao fundo da qual surge abruptamente, no horizonte, um morro enorme e imponente com o seu casario de miséria a contrastar com a urbanidade ali mais próxima.
O modo como o morro cresce no olhar sustém de espanto, literalmente, a respiração.
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