sábado, outubro 02, 2010

os novos deuses

Ouvia insistentemente dizer que era preciso "tranquilizar os mercados", amá-los e respeitá-los sobre todas as coisas. Oferecer-lhes sacrifícios, todos os que fossem necessários, com a mesma fé que levara povos da antiguidade a aplacar a ira dos deuses incensando animais ou decapitando primogénitos. O mesmo dogma, as mesmas sentenças fanáticas, proclamadas com olhar febril. Nenhuma evidência prática do absurdo (sendo cada vez em maior número aquelas em que tropeçavam), os fazia parar para pensar. Apenas valia a necessidade imperiosa de tranquilizar os mercados, com a mesma ilusão de quem crê poder adormecer um vulcão em actividade. Mas com a diferença de não perceberem que qualquer gesto servia somente para reforçar a subserviência e acicatar a fúria imparável destes novos deuses.