sexta-feira, setembro 10, 2010

moralidade e moralismo

"Uma abordagem moral dos problemas económicos começaria por questionar os mecanismos económicos que produzem tão gritantes desigualdades nas capacida-des dos indivíduos para atingirem funcio-namentos genuinamente humanos, para retomar os termos de Amartya Sen (...). A seguir proporia mudanças nas instituições de forma a remover as injustiças que causam sofrimento social evitável - desemprego num lado e horários de trabalho demasiado longos no outro, por exemplo.
Em vez disso, a abordagem moralista, com amplo eco televisivo, procura incutir o choque e o pavor, para depois avançar com uma agenda de regressão social com efeitos perversos naquilo que os indivíduos podem ser e fazer com as suas vidas. Esta abordagem é hipócrita, estreita e equivocada. É hipócrita porque os economistas que defendem reduções das despesas sociais, reduções dos direitos laborais e correspondentes cortes salariais tendem a acumular pensões e outras sinecuras públicas ou privadas. É estreita porque estes economistas falam como se os nossos problemas pudessem ser compreendidos fora dos problemas de uma zona euro totalmente disfuncional. E é, claro, equivocada: o Estado não é uma família e o estado das finanças públicas quase só depende do andamento da economia."

(João Rodrigues, Arrastão)