acordo ortográfico
Do acordo ortográfico já se disse o apocalipse. De dedo em riste ameaçador e olhar sombrio, os seus cavaleiros profetizam uma espécie de escuridão linguística que se abaterá em breve, gerando a incapacidade de nos guiarmos uns aos outros pelos trilhos das palavras, como na cegueira branca de Saramago.
A fronteira de Vilar Formoso, para quem a cruza de comboio, conserva nas paredes da estação uma colecção de painéis, em azulejo, do Estado Novo. Neles figuram ora as imagens bucólicas de um mundo rural intocado, com os seus pastores, moinhos, giestas e riachos, ora imagens de catedrais, igrejas ou outros monumentos, numa forma de fixar o nome e a identidade a cidades e lugares. "Igreja" escreve-se com "E" e minhota conserva o "^". Estranha-se mal se lê e é como se aqueles dizeres nem colassem, sequer, com as imagens estanques do país imutável, que se queria apresentar a quem chegasse do outro lado da fronteira.
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