o círculo e a elipse
Um dos momentos mais sugestivos de Ágora, que revela o talento de Alejandro Amenábar para condensar em instantes o essencial do que quer transmitir (através de imagens ou palavras), encontra-se no grande plano do Appolonian Cone de Hypatia. Focando na vertical uma das suas peças intermédias, a câmara mostra um círculo (que se supunha ser a forma matricial que fixa o movimento dos planetas), na sua pura perfeição (tida como assinatura da criação divina). Mas ao deslizar para a esquerda, ajustando-se à inclinação da peça, a câmara desenha lentamente uma elipse, assim sugerindo a mudança paradigmática que separa o geocentrismo do heliocentrismo. Mesmo em termos literais, este movimento traduz uma poderosa metáfora da mudança de perspectiva (e da superação da geometria plana de Euclides). Mas sugere mais do que isso. Demonstra a emergência de um mundo novo para o pensamento, capaz de transcender o pressuposto da existência de uma única perspectiva possível. A razão que reconhece a pluralidade de ângulos torna-se assim capaz de dissolver, nos seus fundamentos, o monolitismo dogmático, obscurantista (e bárbaro), reivindicando pensar para lá das fronteiras do convencionado e da suposta pureza inquestionável das coisas.
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