mete-se o natal
"Quem já lidou com serviços, sabe o que é isto: “Pronto, o requerimento está entregue. O problema é que isto é capaz de atrasar” (pausa dramática) “porque agora mete-se o Natal...”, acaba por dizer o funcionário, como quem anuncia um acidente. Apanhados de surpresa, damos por nós a murmurar, com pesar “Ah... não me diga. Pois, se é assim...” Quando, o que devíamos dizer era “Ó meu amigo, o Natal não se meteu coisa nenhuma, porque já o ano passado – e esta tem graça! – se tinha metido nesta altura. Como aliás, salvo erro, se tinha metido no anterior. Ou não? Espera... Sim, já se tinha metido no anterior!”
Mas estaria a ser injusto para o funcionário, que só quer fazer o seu trabalho e não tem culpa por ter sido apanhado de surpresa pelo Natal, que se “meteu” no meio do serviço, atrasando a produção uns quinze dias. Isto porque, não contente em “meter-se”, pôs uma cunha e “meteu” também a véspera. Além disso, quando o funcionário julga que o caminho está livre para dias e dias de trabalho ininterrupto, eis senão quando se “mete” o Ano Novo. Sacana. E o funcionário, coitado, ainda a refazer-se da surpresa da primeira metidela.
Todo o ano, invariavelmente, o trabalhador português é surpreendido por este “meter-se” do Natal.
Ó Silva, tens tudo preparado para acabar o serviço? ■ ‘Tá tudo pronto chefe, se não acontecer nada de estranho, tenho isto acabado dia 26 ■ Óptimo! ■ Ui... Espere lá... Estou aqui a consultar o calendário... É pá... ■ O que foi? ■ O chefe não vai acreditar, caraças, mas vai-se meter aqui o Natal! ■ O Natal? Poça! E agora? ■ Agora? Só acabo isto lá para Janeiro. E, e!
É uma tragédia. O governo devia pensar em fazer alguma coisa, já. Quer dizer, agora, só lá para o ano, claro."
(Zé Diogo Quintela, Gato Fedorento, 2003)
Mas estaria a ser injusto para o funcionário, que só quer fazer o seu trabalho e não tem culpa por ter sido apanhado de surpresa pelo Natal, que se “meteu” no meio do serviço, atrasando a produção uns quinze dias. Isto porque, não contente em “meter-se”, pôs uma cunha e “meteu” também a véspera. Além disso, quando o funcionário julga que o caminho está livre para dias e dias de trabalho ininterrupto, eis senão quando se “mete” o Ano Novo. Sacana. E o funcionário, coitado, ainda a refazer-se da surpresa da primeira metidela.
Todo o ano, invariavelmente, o trabalhador português é surpreendido por este “meter-se” do Natal.
Ó Silva, tens tudo preparado para acabar o serviço? ■ ‘Tá tudo pronto chefe, se não acontecer nada de estranho, tenho isto acabado dia 26 ■ Óptimo! ■ Ui... Espere lá... Estou aqui a consultar o calendário... É pá... ■ O que foi? ■ O chefe não vai acreditar, caraças, mas vai-se meter aqui o Natal! ■ O Natal? Poça! E agora? ■ Agora? Só acabo isto lá para Janeiro. E, e!
É uma tragédia. O governo devia pensar em fazer alguma coisa, já. Quer dizer, agora, só lá para o ano, claro."
(Zé Diogo Quintela, Gato Fedorento, 2003)
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