domingo, outubro 31, 2010

mistérios da escrita

A não colocação de um espaço a seguir ao ponto final, ao terminar uma frase, é um gesto consciente e intencional de José Medeiros Ferreira, quando escreve no Córtex Frontal?

sexta-feira, outubro 29, 2010

combate de blogues

Onde se chegou a sugerir que este estabelecimento deveria estar em consonân-cia com a conjuntura político-partidária e assumir a designação de Passos perdido.

quinta-feira, outubro 28, 2010

os cinco cavacos

"Conhecemos cinco cavacos. Mas todos os cavacos vão dar ao mesmo (...). O primeiro Cavaco foi primeiro-ministro (...). Escolheu e determinou um modelo de desenvolvimento que deixou obra mas não preparou a nossa economia para a produção e a exportação. O Cavaco dos patos bravos e do dinheiro fácil (...). O segundo Cavaco alimentou um tabu: não se sabia se ficava, se partia ou se queria ir para Belém. E não hesitou em deixar o seu partido soçobrar (...). A agenda de Cavaco sempre foi apenas Cavaco (...). O terceiro Cavaco regressou vindo do silêncio (...). Concorreu de novo às presidenciais (...). Não tem pensamento político, tem apenas um repertório de frases feitas muito consensuais. Esse Cavaco paira sobre a política, como se a política não fosse o seu ofício de quase sempre (...). O quarto Cavaco foi Presidente (...). O Cavaco que achou que não devia estar nas cerimónias fúnebres do único prémio Nobel da literatura porque tinha um velho diferendo com ele. Porque Cavaco nunca percebeu que os cargos que ocupa estão acima dele próprio e não são um assunto privado (...). O quarto Cavaco não é um estadista. E agora cá está o quinto Cavaco (...). Em campanha disfarçada, dá conselhos económicos ao País. Por coincidência, quase todos contrários aos que praticou quando foi o primeiro Cavaco (...). Foi o Presidente da República que chegou ao fim do seu primeiro mandato com um dos baixos índices de popularidade (...). O quinto Cavaco não tem chama."

(Do excelente texto de Daniel Oliveira, no Arrastão, a ler na íntegra)

quarta-feira, outubro 27, 2010

há alternativa à austeridade?

Debate organizado pelo Forum Manifesto, na Ler Devagar (Lx Factory), sábado às 21.00h.

"Este OE vai criar uma lógica de recessão salarial, laboral, de consumo e investimento. A justificação já a sabemos: é preciso reduzir o défice. Mas a história não acaba aqui. É preciso saber se não estamos a entrar num ciclo infernal de instabilidade e insustentabilidade da economia, da sociedade e até da política. Acho que o OE vai gerar instabilidade social, porque os seus impactos do ponto de vista social são altamente assimétricos. A classe média é atingida, mas quem vai sair mais prejudicado são as classes baixas. Eu, por exemplo, vou sofrer um agravamento fiscal muito significativo, mas quem ganha metade do que eu vai ter um agravamento fiscal proporcionalmente idêntico, o que não é tolerável. A economia vai ficar numa anemia terrível e entrar numa dinâmica de insustentabilidade - retracção do consumo e investimento e nenhuma garantia de progressão nas exportações. Faz sentido discutir se a ambição de recuperação do défice justifica isto, porque a recessão vai cortar no PIB e prejudicar essa meta."

(José Reis, Público de 16 de Outubro)

terça-feira, outubro 26, 2010

guiadores, correntes e pedais

Um generoso convite do João Rodrigues, com a estimulante benção dos outros ladrões, fez-me aceitar o desafio imenso de escrever aqui, num dos espaços mais consistentes e interessantes da blogosfera. Fico entre amigos, com os quais muito tenho aprendido e continuarei a aprender. E entro bem acompanhado, com o Alexandre Abreu, outro amigo que também agora começa a pedalar.

domingo, outubro 24, 2010

songs for the season

Our lady of the angels (The Durutti Column, live at Mocambo, 1986)

sexta-feira, outubro 22, 2010

os mistérios de rogoff

"Para Rogoff, o mundo é para ser contemplado (esteticamente?), não transfor-mado. A certa altura, saiu-se com esta pérola: 'misteriosamente, quase não houve crises financeiras entre o final da II Guerra e o final dos anos 70'. Miste-riosamente?!. Na sessão de debate, perguntei se faria sentido dizer 'misteriosa-mente' ou se, pelo contrário, durante esse período, 'things really were different'. A resposta não tardou: a diferença foi o forte crescimento da economia mundial verificado nesse período. Ou seja, nada se passou no mundo da finança que não se tivesse passado sempre. Para ser perceber como a resposta de Rogoff não tem pés nem cabeça, basta pensar no que aconteceu recentemente a países como os EUA, Espanha e Irlanda: todos tiveram fortíssimos crescimentos económicos assentes em bolhas especulativas. A liberalização dos mercados financeiros foi iniciada no final dos anos 70 e o número de crises financeiras, como é óbvio, aumentou exponencialmente desde então. Misterioso, isso sim, é Rogoff achar que nada disto é óbvio."

(Do texto de João Galamba, no Jugular, sobre um colóquio realizado há três dias no Parlamento, subordinado ao tema: Dívida Pública: causas, consequências e perspectivas de evolução)

quarta-feira, outubro 20, 2010

o grande casino europeu

O passe mágico de transformação de dívida privada em dívida pública, com o alto patrocínio da política económica europeia.

sábado, outubro 16, 2010

ensaio sobre a cegueira deliberada

sexta-feira, outubro 15, 2010

o regresso da economia política

A crise financeira e os amplos impactos que desencadeou, a nível económico, político e social, tem mostrado de forma crescente como as trajectórias económi-cas são processos que envolvem escolhas, opções, valores, concepções do mundo e visões plurais em relação às formas de gerir o crescimento e o desenvolvimento.
Não são, como nas últimas décadas o paradigma dominante do pensamento eco-nómico tem tentado fazer crer, o produto de uma racionalidade objectiva, politicamente neutra, mecânica e matemática, que baliza uma lógica únivoca e inquestionável de acção, sem tempo nem contexto. A Política é pois reencon-trada no universo onde afinal sempre esteve: o universo da Economia.
The Revival of Political Economy é uma conferência internacional a não perder, organizada pelo CES, e que tem lugar próxima semana.

terça-feira, outubro 12, 2010

contrastes civilizacionais

"Desde que a Catalunha votou a proibição das touradas que um novo mapa cultural da península está em marcha. Enquanto na restante Espanha se retrai o território taurino, em Portugal há quem queira que ele cresça. Até há pouco era um fenómeno fronteiriço. Mas já em Santarém circula uma petição «Em defesa da festa tauromáquica», sendo o presidente da Câmara o primeiro subscritor. Contrastes civilizacionais..."
(José Medeiros Ferreira, Córtex Frontal)

Se ainda fosse só o Moita Flores. O problema é quando Gabriela Canavilhas, a Ministra da Cultura de um governo socialista, participa na promoção contra-civilizacional da barbárie, através de um forte sinal: a Criação de uma Secção Tauromáquica no Conselho Nacional de Cultura.

segunda-feira, outubro 11, 2010

o futuro não é um mero reflexo do passado

"Pensar os mercados financeiros como se fossem povoados de humanos, de seres com capacidades cognitivas limitadas, propensos à imitação, seguidores de modas e convenções, “soluções”, “âncoras cognitivas” temporárias, para a incerteza ra-dical sobre o fluxo de rendimentos futuros. O futuro não é um mero reflexo estatís-tico do passado. Incorporar o que a psicologia nos ensina para compreendermos os padrões que emergem nos mercados financeiros e que contradizem a irrealista hipótese dos mercados eficientes. De acordo com esta hipótese, os mercados, povoados de agentes mecanicamente racionais que transformam incerteza em risco calculável, tendem a incorporar toda a informação disponível no preço dos activos. Esta hipótese é a teoria económica panglossiana no seu melhor: tudo correrá pelo melhor no melhor dos mundos. A especulação, ou melhor, a arbitragem, é estabilizadora e a inovação financeira é por definição benigna."

(João Rodrigues, Ladrões de Bicicletas)

domingo, outubro 10, 2010

uma história simples (para memória futura)

Sarkosy decreta o desmantelamento de 300 acampamentos ciganos, expulsando do país todos os que se encontrem em situação ilegal. Em sessão plenária, o Parlamento Europeu aprova por maioria uma resolução, sublinhando que as expulsões em massa violam as regras da UE em matéria de discriminação com base na etnia. Perante esta resolução, o próprio Durão Barroso entende ser necessário repreender o Presidente francês, enquanto o Conselho Europeu se limita a criticar a declaração de Viviane Reding, Vice-presidente da Comissão Europeia para a Justiça, Direitos Fundamentais e Cidadania, por aludir às deportações na Segunda Guerra Mundial. De Espanha, perante a defesa de Sarkosy por Zapatero, surge a condenação, pelo Congresso, das repatriações colectivas, com os votos favoráveis dos socialistas. Em Portugal, até o insuspeito Vasco Pulido Valente se insurge contra as medidas do governo francês. Perante a defesa de Sarkosy pelo Primeiro Ministro português, José Sócrates, em Bruxelas, praticamente toda a bancada do Partido Socialista, obedecendo a "ordens de cima", vota contra a condenação apresentada pelo Bloco de Esquerda (excepção para Sérgio Sousa Pinto, o único a votar favoravelmente a moção).

sábado, outubro 09, 2010

justiça

Uma excelente conversa de homenagem a Saldanha Sanches, com António Lobo Xavier, Fernando Araújo, Frei Bento Domingues e Ricardo Sá Fernandes. Uma perda assim faz com que o deserto pareça ainda maior.

sexta-feira, outubro 08, 2010

armagedão

Bem podia ser o nome de um blogue, que agremiasse os econométricos do costume. A propósito, a Petição pelo pluralismo de opinião no debate político-económico ainda aceita, de muito bom grado, convictas assinaturas e generosos gestos tendentes à sua ampla divulgação.

quinta-feira, outubro 07, 2010

monárquicos imperfeitos

Não admitindo que o povo seja impedido de escolher regularmente quem o governa, Sandro considera imprescindível um referendo para instaurar a monarquia, o regime com que claramente mais simpatiza.

quarta-feira, outubro 06, 2010

petição pelo pluralismo no debate político-económico

"Por ignorância, preguiça, hábito, desconsideração deliberada ou manifesto servilismo, os canais televisivos têm sistematicamente tratado a análise da crise económica como se o intenso debate quanto aos fundamentos doutrinários e às opções políticas que estão em jogo pura e simplesmente não existisse. (...) Não se trata de criticar o monolitismo das opiniões convocadas para o debate, partindo do ponto de vista de quem nelas não se revê. Uma exclusão daqueles que têm tido o privilégio quase exclusivo de acesso aos meios de comunicação seria igualmente preocupante. O problema de fundo reside em ignorar, nos dias que correm, o pluralismo de interpretações e perspectivas sobre a crise, sobre os seus impactos e sobre as opções de superação.
Somos cidadãos e cidadãs preocupados com este silenciamento e monolitismo. E por isso exigimos aos órgãos de comunicação social – em particular às televisões, e sobretudo àquela a quem compete prestar “serviço público” – que respeitem o pluralismo no debate político-económico de modo a que se possa construir uma opinião pública mais activa e informada. Menos do que isso é ficar aquém da democracia e do esclarecimento."

Encontra-se aqui o texto integral da Petição, que deve ser lido, desejavelmente assinado e generosamente divulgado.

terça-feira, outubro 05, 2010

republicanos imperfeitos

Ruca descobriu que afinal talvez não fosse assim tanto contra a monarquia, desde que o rei pudesse ser democraticamente eleito de cinco em cinco anos.

segunda-feira, outubro 04, 2010

manifesto dos economistas aterrorizados

"Enquanto economistas, aterroriza-nos constatar que estas políticas continuam a estar na ordem do dia e que os seus fundamentos teóricos não sejam postos em causa. Mas os factos trataram de questionar os argumentos utilizados desde há trinta anos para orientar as opções das políticas económicas europeias. A crise pôs a nu o carácter dogmático e infundado da maioria das supostas evidências, repetidas até à saciedade por aqueles que decidem e pelos seus conselheiros. Quer se trate da eficiência e da racionalidade dos mercados financeiros, da necessidade de cortar nas despesas para reduzir a dívida pública, quer se trate de reforçar o “pacto de estabilidade”, é imperioso questionar estas falsas evidências e mostrar a pluralidade de opções possíveis em matéria de política económica.

Crise e Dívida na Europa: 10 falsas evidências, 22 medidas em debate para sair do impasse, de Philippe Askenazy, Thomas Coutrot, André Orléan e Henri Sterdyniak. Recentemente lançado pela Associação Francesa de Economia Política, um documento que sintetiza de forma clara e fundamentada as verdadeiras razões da crise em que nos encontramos, as falsas verdades alimentadas em redor dela e o profundo desacerto das políticas económicas que estão a ser seguidas, contrapondo-lhes as estratégias necessárias, ausentes do discurso dominante. Absolutamente imperdível.

domingo, outubro 03, 2010

lula da silva

"Ainda assim, vistos de um país com a dimensão de Portugal, os números de pessoas que saíram da pobreza no Brasil nos últimos anos (sejam 10, 12 ou 20 milhões) são avassaladores. De tal maneira que, mesmo na semana em que o Presidente agradece a Deus pelo “momento mais auspicioso do capitalismo mundial”, é muito grande a tentação de achar “suficiente” a esquerda de Lula. Sobretudo quando continuamos a encontrar, nos jornais como nas ruas, gente que contesta as políticas sociais porque elas fazem com que as pessoas “não queiram” trabalhar. Gente, afinal, que acha que ele é “demasiado” de esquerda. Na verdade, vendo a coisa de Portugal, o que eu tenho é inveja de não poder confrontar-me com dilemas destes."

(Pedro Rodrigues, Individualismo Solidário)

sábado, outubro 02, 2010

os novos deuses

Ouvia insistentemente dizer que era preciso "tranquilizar os mercados", amá-los e respeitá-los sobre todas as coisas. Oferecer-lhes sacrifícios, todos os que fossem necessários, com a mesma fé que levara povos da antiguidade a aplacar a ira dos deuses incensando animais ou decapitando primogénitos. O mesmo dogma, as mesmas sentenças fanáticas, proclamadas com olhar febril. Nenhuma evidência prática do absurdo (sendo cada vez em maior número aquelas em que tropeçavam), os fazia parar para pensar. Apenas valia a necessidade imperiosa de tranquilizar os mercados, com a mesma ilusão de quem crê poder adormecer um vulcão em actividade. Mas com a diferença de não perceberem que qualquer gesto servia somente para reforçar a subserviência e acicatar a fúria imparável destes novos deuses.

sexta-feira, outubro 01, 2010

dúvida periódica

"A OCDE recomenda ao Governo aumentar impostos, fazer despedi-mentos em massa, baixar salários e cortar nos benefícios, caso con-trário os portugueses vão sofrer tempos difíceis".
Foi o Inimigo Público que decidiu abandonar o seu nicho de mercado (deixando de publicar coisas que apenas "podiam ter acontecido"), ou foi o mundo que passou a ter lugar no imaginário inverosímel do IP?